Dunas da Gal, na praia de Ipanema, viram patrimônio cultural do Rio

De tanto a cantora baiana ser vista na praia de Ipanema, uma elevação na faixa de areia causada pela construção de um emissário submarino na década de 1970 ficou conhecida como Dunas de Gal.


Por Redação Estereosom Publicado 22/11/2022
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Reprodução: Pixabay

 O verso “vivemos na melhor cidade da América do Sul”, da canção “Baby”, é disputado há décadas por paulistanos e cariocas. Enquanto os primeiros lembram que Caetano Veloso vivia em São Paulo em 1968, ano em que compôs a canção, os segundos comemoravam com gritos e aplausos cada vez que Gal Costa cantava o trecho nas suas apresentações no Rio de Janeiro.


De tanto a cantora baiana ser vista na praia de Ipanema, uma elevação na faixa de areia causada pela construção de um emissário submarino na década de 1970 ficou conhecida como Dunas de Gal. Era a parte da orla favorita do grupo formado por ela e outros artistas de sua geração, como Jards Macalé.


Na última sexta-feira (18), a prefeitura da capital fluminense anunciou tornar o trecho um patrimônio cultural de natureza imaterial. A decisão foi publicada no Diário Oficial do município.


Também está nos planos da prefeitura a instalação de uma estátua de Gal no calçadão de Ipanema. A cantora baiana morreu no último dia 9, aos 77 anos.


Os postos 8 e 9 da orla da zona sul carioca são conhecidos por receber um público liberal. Neste ano, um concurso do site GayCities elegeu o trecho como a segunda melhor praia para o público LGBTQIA+.

A empresária Iolanda Macedo, 64, frequentadora assídua das areias de Ipanema, acredita que a homenagem a Gal estará em local apropriado.


“A cidade ficou um pouco mais careta nos últimos anos. Ipanema foi pioneira nos biquínis e sungas curtos, no topless, na presença do público gay. Isso precisa ser resgatado e tem muito a ver com o que Gal e outros de sua época cantavam e acreditavam”, opina.


A advogada Raissa Zimara, 29, e a bancária Thaís da Silva, 28, acham as Dunas da Gal o melhor trecho da zona sul. As duas pegam o metrô em Irajá, zona norte, e descem na praça General Osório, a um quarteirão da praia.


“O Rio precisa dessas referências culturais para despertar a galera que não mora aqui. É uma cidade turística. Essa parte cultural é importante para mostrar nossa identidade tanto para quem é de fora quanto para quem mora aqui”, afirma Raissa. “A Gal é uma referência, a homenagem é bem legal. Quem parar aqui pode se inspirar a conhecer nossa música popular, nossa cultura”, acrescenta Thaís.


A decisão de tornar o trecho da praia patrimônio cultural também foi bem recebida pelos trabalhadores locais. O barraqueiro Hugo Romão, 22, espera que a construção da estátua de Gal Costa seja no trecho das dunas, para que as vendas aumentem.


“Ajudaria muito a nós barraqueiros. O movimento ficaria maior porque esse espaço viraria um ponto de encontro. Esse trecho fica entre o posto 8 e o posto 9 e se torna menos movimentado porque não tem ponto de referência”, afirma Romão.


Calçadão tem estátuas de brasileiros famosos Desde a pedra do Leme, local onde foi instalada a estátua da escritora Clarice Lispector (1920-1977), até o fim do Leblon, onde fica a escultura em homenagem ao jornalista Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997), estátuas de personalidades brasileiras estão espalhadas pela orla da zona sul do Rio. Somente no calçadão de Copacabana estão as estátuas do piloto Ayrton Senna (1960-1994), do cantor e compositor Dorival Caymmi (1914-2008) e do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).


A manutenção, no entanto, tem sido um desafio para as gestões do município. A escultura para Drummond, inaugurada em 2002 e feita em bronze, ficou conhecida pelos seguidos furtos dos óculos.

A última ocorrência foi em abril deste ano -a peça foi recolocada em outubro. A prefeitura instalou câmeras para monitorar os monumentos da cidade, entre eles a estátua do poeta mineiro.