Filme ‘Tico e Teco’ é criticado por ter Peter Pan que remete a ator morto na miséria


Por Folhapress Publicado 24/05/2022
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Reprodução: Divulgação/ Disney+

 “Tico e Teco: Defensores da Lei” chegou na última semana ao streaming e ganhou destaque nas redes sociais por seu estilo diferente e suas referências ao mundo das animações –de maneira não tão infantil quanto se esperaria de um longa da dupla de esquilos.


Mas, além da comparação com o clássico “Uma Cilada para Roger Rabbit”, que misturou desenho e realidade em 1988, algumas decisões, como trazer um Peter Pan decadente como vilão, acenderam um debate nas redes por suas semelhanças com a realidade.


Conhecido por se recusar a crescer e viver numa terra fantástica para sempre, o Peter Pan do longa, enfim, envelheceu, engordou e se tornou um criminoso. Ele faz parte de um elenco de estrelas decadentes que os protagonistas encontram e, no caso, a vida desse Peter Pan degringolou quando entrou na adolescência e os estúdios repudiaram as mudanças causadas pela puberdade.


O que seria apenas uma trajetória triste e ficcional, porém, ganha contornos reais quando se lembra da tragédia de Bobby Driscoll, o ator mirim que dublou o Peter Pan da animação de 1953, quando tinha 13 anos. Ele participava de filmes desde os seis anos de idade.


O sucesso na infância lhe rendeu até uma estatueta da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e um contrato exclusivo com os estúdios de Walt Disney. Além da dublagem, Driscoll de fato foi a cara do Peter Pan por um período, responsável por interpretá-lo em espetáculos ao vivo, além de ter sido um modelo para o próprio personagem animado.


Mas a fama durou pouco. Logo, ficou mais difícil encontrar bons trabalhos, inclusive que saíssem do escopo infantil que o celebrizou.


Aos 16 anos, foi demitido da Disney –a razão oficial da empresa foi de que Driscoll tinha acnes severas e exigia muita maquiagem do estúdio. Ele seguiu na indústria, trabalhando em filmes menores e séries de TV até 1965, quando tinha 28 anos.


Mas o processo foi doloroso, com direito a bullying no colégio. Com 17 anos e a pequena fortuna que ganhara, começou a se drogar, inclusive com heroína, e chegou a ser preso algumas vezes por porte de entorpecentes.


Com a depressão e as drogas, foi encontrado morto ao 31 anos, em 1968, e enterrado como indigente. Os pais só saberiam do seu falecimento no ano seguinte.


A trajetória do Peter Pan em “Tico e Teco: Defensores da Lei” não é tão sombria, mas não demorou para que usuários nas redes sociais notassem esse paralelo. Vale lembrar, porém, que Peter Pan não é uma criação da Disney, mas do dramaturgo britânico J. M. Barrie para o romance “O Pequeno Pássaro Branco”, de 1902.


A referência fica mais clara quando o próprio Peter Pan do filme conta como foi dispensado pelos estúdios, quando aparece com um ralo bigode e algumas espinhas no rosto.


Nas redes sociais, os espectadores reclamaram de a Disney capitalizar em cima da tragédia do Driscoll. Esta é apenas uma das histórias tristes que envolvem as produções do estúdio, que inclui ainda a de Adriana Caselotti, dubladora da Branca de Neve na animação de 1937, que não foi creditada nas telas e ainda tinha um contrato que a impedia de aceitar outros trabalhos.


Em paralelo, “Defensores da Lei”, não tem papas na língua ao tratar de decadência, e representa diversos personagens da Disney que teriam que viver no mundo real como subcelebridades que dependem de eventos e convites –entre eles há o candelabro de “A Bela e a Fera”, o peixe de “A Pequena Sereia” e personagens de “He-Man”.


No festival de referências, há direito até à presença do “Sonic feio”, uma versão do ouriço azul que, ao aparecer num trailer, foi repudiada pelos fãs e fez com que o estúdio de “Sonic: O Filme” refizesse todo o seu visual.


O filme brinca com o destino dessa versão esquecida, com dentes humanos, e integra essa gozação na comédia do longa. O trabalho é dirigido por Akiva Schaffer, que também escreveu e dirigiu esquetes do programa “Saturday Night Live”.