Marisa Monte mostra ao vivo por que tem o show mais aguardado da MPB

Agora, a aposta é mostrar ao público boa parte do álbum "Portas", lançado no ano passado e produzido sob as exigências protocolares da pandemia. T


Por Folhapress Publicado 07/02/2022
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Reprodução: Divulgação

Marisa Monte estreia um show dez anos depois de sua última turnê. Nesse intervalo, ela viajou com os Tribalistas em suas apresentações por estádios de futebol, que se seguiram ao lançamento do segundo álbum do trio, em 2017.

Agora, é Marisa de novo como estrela única, acompanhada por uma banda notável. Num show longo, de duas horas, ela reafirma sua forte conexão com os fãs. São devotos da cantora, que só sentem sua fé aumentar depois de uma noite arrebatadora.


Marisa decide cada passo que dá na carreira, e dificilmente ela erra. Agora, a aposta é mostrar ao público boa parte do álbum “Portas”, lançado no ano passado e produzido sob as exigências protocolares da pandemia. Talvez o disco mais pop que ela gravou, trouxe canções que sinalizavam potencial para crescer ainda mais no palco.


Das 32 canções apresentadas, 11 delas estão em “Portas”. E praticamente todas confirmam sua vocação de momentos vibrantes quando mostradas ao vivo. A aprovação dos 8.000 fãs que lotaram a casa paulistana Espaço das Américas na sexta (4), na estreia nacional da turnê, estava estampada no rosto de todos na saída, aguardando felizes seus carros de aplicativo.


“Portas”, música que abre o show, é uma delas, mas o frisson que toma a plateia poderia ser creditado à emoção do reencontro do público com sua diva depois de tanto tempo. Outra das novas, “A Língua dos Animais”, é a quinta do setlist e, mesmo com os fãs mais calmos, novamente levanta todo mundo.

Divertida, quase uma canção infantil, é dessas músicas que ganham força incrível no refrão.


A aceitação da nova leva gravada por Marisa fica evidente quando o público canta junto do primeiro ao último verso de cada letra. Seus seguidores fizeram a lição de casa antes de reencontrá-la. E, se as novidades soam assim tão familiares, os hits antigos que encorpam o repertório da noite chegam como catarse pelas mesas na plateia.


Marisa não deixou nenhum de seus álbuns ausente das escolhidas para a turnê. Há, inclusive, uma boa oferta de lembranças de seu disco de estreia, de 1989, o gravado ao vivo “MM”, que contribui com quatro números no show. Entre eles, duas versões muito diferentes de canções bem conhecidas, a titânica “Comida” e “Bem que Se Quis”, esta cantada de uma maneira que surpreenderá os fãs.


Sucessos dos Tribalistas aparecem para desafiar os mais animados a dançarem nos espaços estreitos entre as mesas.


Três canções extraídas de “Portas” são parcerias com Chico Brown, que figura na banda de Marisa tocando teclados, guitarra e baixo. São elas a já sucesso “Calma” e outras duas peças de pop quase irretocáveis, “Quanto Tempo” e “Déjà Vu”. Apresentado à plateia como “meu sobrinho” pela cantora, o filho de Carlinhos Brown demonstra talento e empolgação. Quando uma de suas parcerias com a “tia” acaba de ser tocada, o cantor e compositor de 23 anos vibra com um sorriso aberto, em comemoração sincera.


O clima de família transborda no palco. Marisa desde sempre teve liberdade de gravar o que quisesse e comandar todos os passos da carreira, então a escolha de parceiros de palco também deixa claro que está cercada de músicos queridos. A banda afiadíssima tem a guitarra de Davi Moraes e o baixo de Dadi, dois companheiros dela há muitos anos. Na cozinha, o percussionista Pretinho da Serrinha e o baterista Pupillo são comparsas musicais mais recentes, mas a intimidade com a cantora é clara.


O poderoso trio de metais é uma atração à parte, principalmente quando Antonio Neves põe seu trombone para conversar com a voz forte de Marisa, em momentos irresistíveis. Eduardo Santanna, trompete e flugelhorn, e Lessa, sax e flauta, completam a trinca de virtuosos.


Davi Moraes, Dadi e Chico Brown ganham boas brechas para exibir sua técnica. Mas talvez a intervenção mais interessante entre os músicos tenha caído nas mãos de Pretinho da Serrinha. A portelense Marisa conta que o percussionista, mesmo sendo Império Serrano, a convidou para escrever em parceria um samba para a Portela. “Elegante Amanhecer”, que também está no disco novo, é um instante cativante no palco, com Marisa cantando ao som do cavaquinho de Pretinho, a musa sambando sob gritos enlouquecidos do público.


Assim, entre momentos novos para sua galeria de grandes performances e a consagração de seus clássicos populares, Marisa Monte justifica, mais uma vez, porque seus shows são os mais aguardados da MPB. Podem demorar o quanto for.

TURNÊ ‘PORTAS’
Avaliação: Ótimo
Onde: Espaço das Américas – r. Tagipuru, 795, Barra Funda
Preço: Poucos ingressos disponíveis para os shows de sexta (11) e sábado (12), entre R$ 140 e R$ 680
Autor: Marisa Monte