‘Godzilla 2’ não passa de um vale-tudo de titãs gigantescos
Para quem consome essa fatia específica do cinema sci-fi, o filme é certamente divertido.
Sabe aquele garotinho que brinca no tapete da sala de estar com um dinossauro de plástico em cada mão e fica batendo um contra o outro, simulando uma briga? Quem teve uma infância assim está pronto para assistir ao segundo filme da franquia americana do maior monstro do cinema japonês.
“Godzilla 2: Rei dos Monstros” não é para gente normal. É requisito obrigatório o espectador ver alguma graça num interminável pega-pega entre bichos do tamanho de um prédio de 40 andares. Um mínimo de roteiro costura as cenas, e a maior parte dos diálogos é gasta na identificação dos monstros e seus nomes descolados: Ghidorah, Mothra, Rodan…
Sim, são muitos. No enredo, uma organização cuida de achar e manter adormecidos vários monstros pelos planeta. Godzilla não está entre os capturados. Desde sua aparição ao mundo, em 2014, vive escondido nas profundezas dos oceanos.
Mas uma quadrilha de ecoterroristas (assim definidos no filme) se alia a uma cientista na intenção de despertar os monstrengos. A proposta deles, bizarra, é restabelecer o equilíbrio da vida na Terra e outras asneiras. A operação começa com monstros não tão terríveis, mas tudo muda quando é hora de acordar uma criatura muito especial.
Ghidorah é um lagarto alado de três cabeças. Quando ele volta a zanzar pelo planeta, fica claro que ele tem ascendência sobre os outros monstros. Vem então a explicação: desde tempos imemoriais, Godzilla e Ghidorah têm uma rivalidade enorme. São os predadores alfa que conseguem liderar a matilha e brigam há séculos para ver quem manda no pedaço.
Aí os roteiristas vão criando situações que colocam os bichões frente a frente, criando alguma expectativa para os eventuais combates entre os figurões, Godzilla e Ghidorah. Enquanto isso, entre os humanos do elenco se configura a luta de um cientista para recuperar a filha adolescente, sequestrada pelos terroristas.
Há espaço para algumas sacadas engraçadas, como um certo clima de “romance” entre Godzilla e a borboleta gigante Mothra e o jeitão meio Três Patetas das cabeças de Ghidorah, porque às vezes elas parecem brigar entre si.
A escalação dos atores é um desperdício multinacional. O japonês Ken Watanabe, a inglesa Sally Hawkins, a chinesa Zhang Ziyi e a americana Vera Farmiga têm reconhecido talento para algo muito mais desafiador do que ficar correndo atrás de monstros gigantes.
Um acerto claro no cast é a presença de Millie Bobby Brown no papel de Madison, filha do casal de cientistas que inventou uma máquina para tentar se comunicar com as criaturas. A jovem atriz é conhecida dos nerds, célebre pelo papel da garota superpoderosa Eleven na série cult “Stranger Things”. Sua presença graciosa na tela agrada o público de uma produção como essa.
Qualquer pessoa sem intimidade com o mundo fantástico dos filmes de monstro corre o risco de sair na metade da sessão, quando perceber que a coisa não vai além do vale-tudo dos titãs gigantescos.
Para quem consome essa fatia específica do cinema sci-fi, o filme é certamente divertido. Mas poderia ter lances mais inteligentes para criar um produto acima da média. Talvez os produtores consigam no próximo longa da franquia, que promete o confronto entre Godzilla e King Kong.
GODZILLA 2 – REI DOS MONSTROS
PRODUÇÃO EUA, 2019
DIREÇÃO Michael Dougherty
ELENCO Kyle Chandler, Vera Farmiga, Millie Bobby Brown
CLASSIFICAÇÃO
AVALIAÇÃO Regular