Como é o Tomorrowland, um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo
Girafas, leões, flamingos e coqueiros infláveis são companheiros fiéis dos centenas de milhares de frequentadores de um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo, o Tomorrowland.
Mesmo que a dance music dite o ritmo do evento na Bélgica com suas batidas repetitivas, o clima é de carnaval.
Além do balão de festa infantil como acessório indispensável, os frequentadores se enrolam nas bandeiras de seus países –mais para mostrar de onde vieram e iniciar conversa com estranhos do que por nacionalismo –e os grupos de amigos se uniformizam na multidão, a exemplo de um trio de rapazes vestidos de “Onde Está Wally?”.
Quem já foi ao Tomorrowland, produto de exportação da Bélgica que encerra sua 17ª edição neste domingo (30), pode imaginar como será a versão brasileira do festival, em outubro –palcos para fãs de vários tipos de música eletrônica, como house, techno, tech house, trance, EDM e drum’n’bass, instalados em meio ao verde e a uma ambientação supercolorida.
No parque em Boom, a 30 quilômetros de Bruxelas, onde o festival acontece, a cenografia tem dragões, borboletas e flores gigantes, além de performers fantasiados de fadas e elfos, num misto de “Harry Potter” com Idade Média. O palco principal é um castelo imenso, tipo Disney, com fogos de artifício que disparam nos momentos de ápice das músicas.
Com tantos elementos prendendo a atenção, os frequentadores não esperam apenas ouvir dance music em sistemas de som espetaculares.
“Queremos fazer do festival um evento de entretenimento que mexa com todos os sentidos.
Queremos visuais, contação de histórias, boa comida. A música não é, como em outros festivais, a nossa única prioridade”, afirma Bruno Vanwelsensers, CEO do Tomorrowland.
Tudo no festival contribui para a excitação e o delírio constantes, e o público responde. Quando o DJ brasileiro Vintage Culture mixava vozes robóticas com samba durante seu set num palco flutuante montado no meio do lago, dezenas de pessoas levantavam bandeiras do Brasil e uma outra erguia uma bandeira do smiley face, a carinha sorridente símbolo das raves.
Mais tarde, num palco em forma de tenda de circo onde o som e os paredões de LED englobam totalmente o espectador, a russa Nina Kraviz mandava um techno aceleradíssimo. Quem fechou a primeira noite foi Tiësto, um dos DJs mais conhecidos do mundo, com um remix de “Bittersweet Symphony”, do The Verve, em meio a fogos de artifício, para uma multidão ensandecida.
Com mais de 750 artistas divididos em 16 palcos, uma das características do festival é a de agradar a muitos gostos, do gótico do techno que quer se enfiar num porão subterrâneo ao povo “good vibes only” que está a fim de ouvir psytrance em meio às árvores. Tal variedade de público é um desafio para os DJs, que precisam adaptar seu som para agradar cada plateia.
“É muito difícil tocar no Tomorrowland porque você só tem uma hora e é difícil de colocar tudo em uma hora. Num set de três horas você pode colocar mais gêneros”, afirma Tiësto. “No festival você toca com os DJs mais tops e é difícil superá-los. Eu fico um pouco nervoso.”
O DJ holandês conta também que, à exceção das duas ou três primeiras músicas, que já planeja de antemão, improvisa seu set de acordo com a reposta do público.
“A dance music é um reflexo do mundo ao nosso redor. O mundo é muito rápido agora. Nos anos 1990 você tinha músicas de onze minutos e as pessoas nem se davam conta que eram onze minutos, e agora as músicas têm meio minuto, dois minutos, e as pessoas já estão tipo ‘essa música é longa’.”
Diferentemente de outros festivais que adotam uma política de tolerância a drogas, nenhum psicotrópico é aceito no Tomorrowland. Há placas pedindo para as pessoas não se drogarem e, em três dias de festival, vi apenas duas pessoas fumando maconha e uma tomando um comprimido.
Por outro lado, bebe-se muita cerveja, o equivalente a uma piscina olímpica durante os dois fins de semana do evento, de acordo com dados da organização.
As quantidades superlativas se estendem ao acampamento do festival, uma área onde se hospedam 38 mil pessoas em acomodações que vão de uma simples barraca de segunda mão a casas com jacuzzi. É tanta gente que há até um pequeno supermercado e uma padaria. Uma versão menor do camping será replicada no Tomorrowland brasileiro.
Em São Paulo, o festival acontece numa fazenda em Itu, a cerca de uma hora da capital. Será a terceira edição brasileira, depois de um hiato de sete anos –a última foi em 2016- e da falência da produtora responsável pelos anos anteriores.
A decisão de voltar para o Brasil, diz o CEO, se deve ao fato de o país ter uma grande quantidade de fãs da marca Tomorrowland e uma locação bonita para o evento.
Mas a ideia é que o festival não seja um xerox da versão belga, afirma Rodrigo Mathias, um dos responsáveis pelo Tomorrowland no Brasil. Isto quer dizer que o line up foi escolhido por uma equipe com profissionais de ambos os países e que haverá palcos locais exclusivos.
A expectativa de público é de 180 mil pessoas em três dias, pouco menos da metade do evento na Bélgica, que se estende por dois fins de semana.
Para atrair público equivalente ao de uma cidade média, o festival aposta em DJs de forte apelo comercial, como os belgas Dimitri Vegas & Like Mike. O duo, que se apresentou em quase todas as edições do Tomorrowland e tocará no Brasil, mixa refrões de músicas pop com batidoes graves, para o público cantar junto e levantar os braços.
Para os artistas, qual a diferença de tocar no Tomorrowland e em outros festivais? “Só há um tanto de ingressos para o Tomorrowland e este número não vai aumentar. Conseguir um ingresso já é um desafio”, diz Vegas. “Por isso, todo mundo que está aqui está muito feliz e você nota. Todos estão muito determinados a estarem aqui. Para quantos shows as pessoas fazem isso?”
O jornalista viajou a convite do Tomorrowland.