Morre Antonio Arnoni Prado, um dos principais nomes da crítica literária no Brasil
Antonio era graduado em letras vernáculas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, e em ciências jurídicas e sociais pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Fez mestrado e doutorado em letras, também na USP, e pós-doutorado na Fondazione Giangiacomo Feltrinelli, de Milão.
Considerado como um dos principais nomes da crítica literária no Brasil, Antonio Arnoni Prado era reconhecido e premiado mundialmente. Mas vivia na simplicidade. O arquiteto de software Ricardo Gellman Prado, 40, um dos filhos dele, diz que ele desconhecia seu tamanho como intelectual.
Filho de um taxista e de uma dona de casa, Antonio, que morreu dia 11 de setembro, aos 79 anos, nasceu na região do Tremembé, na zona norte paulistana. De família simples, muitas vezes vendeu sapatos novos para comprar livros. Aos cinco anos, já era um leitor voraz. Dedicava boa parte do dia à leitura.
“Ele foi o ateu mais cristão que existiu. Por dia, meu pai lia trechos de mais de dez Bíblias, em idiomas diferentes”, afirma Ricardo.
Antonio era graduado em letras vernáculas pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, e em ciências jurídicas e sociais pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo. Fez mestrado e doutorado em letras, também na USP, e pós-doutorado na Fondazione Giangiacomo Feltrinelli, de Milão.
Foi professor titular do departamento de Teoria Literária do IEL (Instituto de Estudos da Linguagem) da Unicamp, onde permaneceu entre 1979 e 2012, quando se aposentou.
Sob os olhos dos alunos e colegas de trabalho, foi um professor brilhante. Antonio orientou várias dissertações de mestrado e teses de doutorado. Segundo o filho, publicou cerca de dez livros e assinou prefácios, capítulos de outras obras e diversos artigos.
Entre seus trabalhos mais importantes estão a edição da crítica literária dispersa de Sérgio Buarque de Holanda e a publicação de uma coletânea de ensaios críticos reunidos em “Trincheira, Palco e Letras”.
Também publicou “Itinerário de uma Falsa Vanguarda: os Dissidentes, a Semana de 22 e o Integralismo”, de 2010, que ganhou o Prêmio Mário de Andrade da Fundação Biblioteca Nacional.
Organizou, ainda, “Lima Barreto: uma Autobiografia Literária” (2012) e escreveu “Dois Letrados e o Brasil Nação: a obra crítica de Oliveira Lima e Sérgio Buarque de Holanda” (2015), este vencedor do Prêmio Rio de Literatura na categoria ensaio.
O último livro do professor, lançado pela editora 34, foi em 2019: “O Último Trem da Cantareira” combina memórias e ficção na São Paulo do século 20.
Antonio tratava um tumor no cérebro havia 15 anos. Divorciado, deixa os filhos Ricardo e Mariana e o neto AAron, 3.
“O vazio da minha vida é muito grande. Ele foi meu pai e minha mãe. Ele que nos acordava, levava ao teatro, nos passeios. Quando voltávamos dos passeios, pedia para nós uma redação. Meu pai deixou milhares de lições, como o amor e a simplicidade, mas a maior delas foi nunca julgar ninguém. Ele era leve, sem mágoas. Perdoava e olhava as coisas boas da vida. Fica também o amor que ele sentia pelo Tobias, o cachorro companheiro dele”, diz Ricardo.