Eu ser capa de revista e estar no The Voice não significa que racismo acabou, diz Iza
"Nós mulheres negras crescemos com muitas barreiras mentais, que a sociedade impõe. Existem padrões estéticos, sociais, comportamentais e que são impostos. É como se a gente já nascesse com um peso extra", ressalta Iza.
Iza e Alcione se encontram no Rock in Rio neste domingo (29). As cantoras sobem ao palco Sunset no terceiro dia do festival, que ocorre no Parque Olímpico (zona oeste do Rio). Para a ocasião, elas ensaiaram e gravaram juntas uma música que fez sucesso na voz de Aretha Franklin: “Chain of Fools”, que será entoada pelas artistas ao vivo.
A cantora pop conta que o dueto com a sambista tem a ver com a história de representatividade que ela quer contar no festival carioca. “Eu sempre tive esse sonho. Eu queria fazer um show que falasse sobre representatividade, feminilidade, sobre ser mulher”, diz Iza durante um dos ensaios em São Paulo ao Lineup.
Aos 29 anos, ela afirma que tem visto uma evolução em questões como o racismo. “Acho que a gente tem falado mais, tem se organizado mais, se ajudado mais. Não temos deixado as coisas passarem”, afirma.
“Eu ser capa de revista, estar no The Voice, não significa que o racismo acabou. Ainda precisa muito, ainda tem que ser feita muita coisa”, diz uma das juradas do programa da Globo.
“Nós mulheres negras crescemos com muitas barreiras mentais, que a sociedade impõe. Existem padrões estéticos, sociais, comportamentais e que são impostos. É como se a gente já nascesse com um peso extra”, ressalta Iza.
Para ela, “essas barreiras acabam mostrando inconscientemente para várias meninas que talvez o lugar delas não seja ali”. “É preciso que a gente se veja na tela, a gente precisa de coragem, a gente precisa sentir que vai ter oportunidade, sentir que se formos boas vamos estar ali.”
“A gente precisa cada vez mais de mulheres negras falando para mulheres negras”, afirma. “É isso que vai mudar a mentalidade de muitas meninas que se sentem de privadas de muitas profissões, muitos ambientes, de muitas coisas. É isso que vai fazer o mercado abrir o olho para várias mulheres incríveis que não são escolhidas por uma questão social, racial ou econômica”, defende.
As parcerias são uma marca do palco Sunset, dirigido por Zé Ricardo, que sempre ressalta os três pilares do palco que dirige: provocar, atualizar e revelar. Encontros inusitados e mescla de gerações é comum no espaço.
A dona de hits como “Pesadão”, “Ginga” e “Brisa”, e de um álbum bastante elogiado, o “Dona de Mim” (2018), diz estar realizando um sonho ao cantar com Marrom novamente. “Eu nem dormi a primeira vez que cantei com ela em um evento no Rio, fiquei tremendo”, relembra-se.
Antes disso, conta Iza, Alcione fez um post sobre o meu trabalho que a emocionou. “Fiquei como estou agora, emocionada, eu chorei muito”, conta com os olhos marejados; “É muito especial ter esse reconhecimento de alguém que é tão importante para mim, para a música brasileira, para nós mulheres negras.”
A publicação a que ela se refere é de julho de 2018, quando Marrom afirmou: “Há muito tempo eu venho esperando na música do Brasil, um acontecimento que me deixasse perplexa e que preenchesse todas as qualidades que um artista precisa.”
E continuou: “Para quem já viu Pelé jogar, escutou Clara Nunes, ouviu Lenine, assistiu O Auto da Compadecida com Marco Nanini e Matheus Nachtergaele, ouviu Elza Soares, As Rosas Não Falam de Cartola, viu a Mangueira campeã em 1984, assistiu [a] Papa Francisco no Brasil, Chico Anysio, Grande Otelo, Fernanda Montenegro, vibrou com o pentacampeonato do Brasil”
“É importante uma mulher negra, jovem, bonita chegar cantando tudo”, diz Alcione ao Lineup. “Eu tive que fazer aquele post. Fiquei muito feliz quando me convidaram para cantar com ela.”
Será a segunda vez que Iza sobe ao palco do Rock in Rio. Em 2017, foi convidada pelo americano CeeLo Green para uma participação especial. “Fool For You” e “Earth Song” foram as canções que mostraram juntos na ocasião.
Em abril deste ano, ela foi atração de outro grande festival: o Lollapalooza, em São Paulo.
“São os shows que eu mais gosto de fazer. Eu amo público de festival”, diz a cantora. “É um público que vai voltado mesmo para a música, para a celebração, para se ver no telão, aquela galera que gosta de empurrar energia para o artista”, completa.