Didi Wagner quer rejuvenescer seu público com canal no YouTube
Rosto conhecido da TV brasileira desde 2000, quando estreou na MTV com o programa Supernova, a apresentadora surfa na crista da onda dos canais no YouTube.
Dar um joinha, marcar os amigos, se inscrever, ativar as notificações. Termos tão usuais aos youtubers e a seu público, esses, decerto, não eram habituais ao vocabulário de Didi Wagner, 43. Rosto conhecido da TV brasileira desde 2000, quando estreou na MTV com o programa Supernova, a apresentadora surfa na crista da onda dos canais no YouTube.
“Claramente não sou da geração YouTube. Meu público também não é dessa época. Meu hábito ainda é ligar a TV, sou uma pessoa da TV. Mas todos os gurus do marketing dizem que para você se manter relevante tem que renovar sua base de seguidores, rejuvenescer seu grupo. Conheço essa regra, não estou conseguindo levá-la tão à risca, mas acho que o canal tem um pouco essa função”, diz à reportagem Wagner.
A apresentadora afirma que não tem uma meta definida para seu canal, que estreou em fevereiro deste ano e já tem mais de 16 mil inscritos. Os vídeos abordam assuntos que variam de maquiagem a astrologia -sobretudo com um viés musical e pop. “A ideia é crescer mais qualitativamente, do que numericamente. Estou usando como exercício criativo.”
A experiência para Didi, que acostumada a falar com um público jovem, vanguardista e conhecedor de temas musicais, está mais ligada ao exercício da linguagem em si. Para ela, a principal motivação foi experimentar uma plataforma com a qual não tinha intimidade.
“Fiz muito essa coisa de conversar diretamente com a câmera, principalmente no começo da MTV, mas estava enferrujada. Os vídeos têm assumidamente uma super edição, às vezes, refaço algumas chamadas, mas a ideia é que vá ao ar a minha reação inicial”, conta Wagner.
Uma das criadoras e apresentadora do Lugar Incomum, que está em sua 16ª temporada no Multishow tendo como destino Israel, e comandando transmissões ao vivo de festivais musicais, como Rock in Rio e Lollapalooza, Didi Wagner assume uma aura profissional mais estratégica do que prosaica. O que a faz ter algumas certezas em mente.
Primeiro, a de que precisa assumir a dianteira do cuidado de suas próprias produções. Depois, que seu público, apesar de mais nichado que de artistas popularescos, lhe confere um satisfatório poder de mercado. Isso fez com que ela não precisasse sucumbir a relações apenas por network.
Wagner explica que isso vem do curso Negócios de Entretenimento, Mídia e Esportes, organizado por um braço da Universidade de Harvard, do qual ela fez parte e realizado na Flórida, nos Estados Unidos. “Aplico isso no meu canal ao cuidar das produções. Não tenho o alcance de Ivete Sangalo, mas meu público tem valor de mercado e me deixa satisfeita. No curso, percebi que os americanos levam mais a ferro e fogo essa questão de criar relações pensando nos negócios. Eu vou contra: sou amiga de quem eu gosto, não uso as pessoas por possibilidades de negócios”, pondera.
Como colegas de classe, Didi teve o ex-jogador Kaká, o lateral-direito do PSG (Paris Saint-Germain) Daniel Alves e o músico nova-iorquino LL Cool J. “Fiquei até um pouco intimidada. Trabalhamos em cima de uma seleção de cases de artistas, empresas, atletas, e exercitamos cenários de possibilidades.”
CURADORIA MUSICAL PULVERIZADA
Didi Wagner foi quase onipresente na chamada época de ouro da MTV, quando o canal era o queridinho do público jovem, vitrine do mainstream musical e destoava do conservadorismo das concorrentes. De Supernova ao Tem jeito?, passando por Uá uá e Peep MTV, a paulistana é saudosista do chama de “valor de curadoria” que a MTV imprimia no cenário fonográfico brasileiro. À época, o canal estava sob o guarda-chuva do Grupo Abril. Hoje, a Viacom é a controladora e investe em realities show.
“Tínhamos apreço por sinalizar o que era relevante. Íamos de Madonna a Michael Jackson, mas surgiam na programação Cachorro Grande e Autoramas. Hoje, a curadoria fica a cargo dos influenciadores, a custa deles, mas de uma forma muito menos concentrada, mais pulverizada. E tem o pano capitalista. Você está divulgando de forma genuína ou porque estão te pagando? A questão ficou mais nebulosa”, alerta.
A apresentadora rememora que a MTV antiga tinha outro valor e sempre revelava novos nomes da música, como a cantora Pitty. “Ninguém falava de um ou outro artista porque ia dar um rendimento específico. Era uma emissora feita por pessoas apaixonadas por música. Era uma curadoria vinda de um conhecimento profundo sobre bandas, artistas, movimentos musicais. A MTV, por exemplo, não ficou imune ao boom do pagode. Conheci Terra Samba. Mas aí veio o advento da internet…”, conclui.