Adele lança ’30’ e vai além da sofrência em disco sobre superação
A base da campanha de divulgação de "30" é o divórcio –seja nos ensaios fotográficos que ilustram as raríssimas entrevistas que a cantora deu para promover o disco, nenhuma delas para o Brasil, seja na escolha de "Easy on Me" como single principal.
Adele está aprendendo a ser feliz sozinha. Em seu quarto disco, “30”, o que mais a faz sofrer não são os amores impossíveis de concretizar ou de esquecer, como em “19”, “21” e “25”, mas a relação mais importante de sua vida –a que ela tem consigo mesma.
O fio condutor do álbum, que será lançado nesta sexta-feira, é a crise dos 30, idade que Adele completou em 2018, um ano antes de romper com seu então marido, Simon Konecki, com quem vivia desde 2011, e pai de seu único filho, Angelo.
A base da campanha de divulgação de “30” é o divórcio –seja nos ensaios fotográficos que ilustram as raríssimas entrevistas que a cantora deu para promover o disco, nenhuma delas para o Brasil, seja na escolha de “Easy on Me” como single principal.
É que, quando a imprensa vazou que Adele havia se separado de Konecki, o divórcio chegou a ser comemorado, ainda que em tom brincalhão, por seus fãs. Agora, eles pensavam, a cantora teria sobre o que cantar e retornaria com tudo.
E de fato retornou. Ao ser lançado, em outubro, “Easy on Me” conquistou sem esforço o topo das paradas e quebrou o recorde de audições diárias no Spotify, o principal serviço de streaming de música.
O clipe, que veio um dia depois, fez igual sucesso. Fazia, afinal, cinco anos que não se ouvia o vozeirão enfumaçado de Adele se fundir à melancolia do piano na espécie de simbiose que é sua principal marca.
“Você não pode negar o quanto tentei/ O quanto mudei para colocá-lo em primeiro lugar/ Mas agora desisto”, canta uma Adele pensativa enquanto encara a paisagem através da janela ou entra no carro para dirigir sem rumo.
Um irmão quase gêmeo de “Someone Like You” e de “Hello”, com semelhanças não só líricas e melódicas, mas até na fotografia monocromática do clipe, “Easy on Me” era o que todos esperavam.
Ocorre que o single não sintetiza a essência do álbum. Na verdade, ele é a única, entre uma dúzia de faixas, a retratar o divórcio. As demais percorrem assuntos até então inexplorados por Adele.
Em “Oh My God”, por exemplo, Adele canta sobre sua vontade de viver a vida sem as amarras que o estrelato lhe impõe, enquanto em “Can I Get” dá vazão ao medo de se entregar a um relacionamento que só sobreviva pela cumplicidade sexual.
Em “I Drink Wine”, faixa que chamou a atenção dos internautas pelo título –eu bebo vinho, em inglês–, Adele questiona por que se cobra tanto, tenta controlar o incontrolável e busca aprovação de pessoas com quem nem sequer se importa. “Dizem para você se esforçar, você se esforça, encontra um balanço no sacrifício/ Mas ainda não conheci ninguém que esteja realmente satisfeito”, diz.
A insatisfação ainda a acompanha em “Hold On”, faixa em que Adele canta estar cansada de lutar contra si mesma, sem nenhuma chance de vencer a batalha. Esta, porém, abre espaço para a britânica dizer que tudo há de melhorar. “Aguente firme/ Você ainda é forte/ Cedo ou tarde, o amor virá”, diz o refrão, ecoando a mensagem de superação que, sem soar piegas, atravessa boa parte do álbum.
Não que a mudança seja um problema. Ainda mais confiante no poder que sua voz tem de catalisar as mais intensas emoções, e sem recorrer a refrões fáceis ou aos sintetizadores eletrônicos unânimes na indústria musical, Adele mostra em “30” que tem talento para cantar sobre o que quiser. Resta saber, porém, se os ouvintes vão embarcar nesta nova jornada com a mesma fidelidade de outrora.
O jornalista viajou a convite da gravadora Sony