Helena Ranaldi volta à TV em fortes cenas de violência doméstica em ‘Mulheres Apaixonadas’
Casada com Marcos (Dan Stulbach), ela é vítima de violência doméstica, com requintes de uma crueldade adaptada ao cotidiano de seu agressor.
A partir da próxima segunda-feira (29), o sofrimento e a trama angustiante de Raquel (Helena Ranaldi) em “Mulheres Apaixonadas” poderá ser revista com a reprise da novela na faixa do “Vale a Pena Ver de Novo” (Globo). Casada com Marcos (Dan Stulbach), ela é vítima de violência doméstica, com requintes de uma crueldade adaptada ao cotidiano de seu agressor.
Na novela, exibida há exatos 20 anos, Marcos costuma usar a raquete de tênis com que pratica o esporte para bater na mulher. Às vezes começa a surra assoviando, tem a frieza digna dos grandes vilões. Este núcleo foi dos que mais repercutiram em 2003, em sua exibição original, e deve voltar a incomodar os espectadores em tempos pós-MeToo, de fortalecimento do feminismo no Brasil e no mundo.
Helena celebra o quanto a história ajudou a alertar os espectadores sobre a importância de não se calar em casos de agressão. Foi a vitória de um trabalho que exigiu bastante foco e equilíbrio emocional da atriz. Nos bastidores, ela recorda de um dia em que teve uma forte crise de choro após a filmagem de uma das cenas de raquetadas de Marcos. Foi o diretor dizer “Corta!” para ela desabar.
“É diferente de fazer cena de amor, é violência”, diz. “E violência é difícil demais, até tive dificuldade para voltar depois, porque fiquei muito abalada. Tentávamos gravar tudo em uma única, porque não era nada agradável”. As sequências, ela lembra, eram acompanhadas por poucos profissionais, com silêncio absoluto nos estúdios.
A novela abordou ainda outro assunto polêmico, também ligado à personagem de Ranaldi. Ela vivia uma professora de Educação Física que engatava um romance com um de seus alunos. Fred, interpretado por Pedro Furtado, era menor de idade, estudante do ensino médio.
Como a novela foi gravada 20 anos atrás, ela, mesmo sabendo que o mundo mudou muito nessas duas décadas, acredita que o romance não deve ser julgado por conta da forma como a relação foi colocada.
“O Fred trazia pureza, ternura. Era o que a Raquel precisava naquele momento, depois de enfrentar tanta violência”, avalia.
“Esse encantamento ao redor dele e a delicadeza ajudaram a não ter essa polêmica sobre a diferença de idade deles. Não tem como dizer como será a avaliação agora, mas acho que, naquele momento, justificava o todo.”
BEIJOS TÓRRIDOS
Com mais de 10 novelas no currículo, Helena também é lembrada por ter vivido a veterinária Cíntia em “Laços de Família” (2000). Na pandemia, entre setembro de 2020 e abril de 2021, a novela de Manoel Carlos foi reprisada e gerou comentários sobre o quanto a personagem se rendia a Pedro (José Mayer).
Havia um contraponto claro: ela era uma mulher independente e empoderada, que se rendia a um peão considerado machista. Folhetinesco demais?
Segundo a atriz, Cíntia era uma mulher madura, inteligente e bem resolvida mas que realmente não conseguia resistir. Era questão de tesão mesmo. Fortíssimo. Tanto que, para Helena, se a história fosse transportada para os dias atuais, sua personagem ainda escolheria ficar com Pedro em 2023.
“Eles se envolveriam sim, porque ela ia continuar pautando a vida dela pelo desejo. A Cíntia escolhia o que ela queria e o final dela [sozinha, mas com uma noite de recaída com Pedro] é um símbolo da liberdade que ela tinha. Ela tem o homem que quiser e vai ser feliz assim. Eu tinha torcida na época para que eles ficassem juntos, mas achei muito interessante a escolha final do Maneco”, aponta ela.
Os beijos do casal, inclusive, são lembrados até hoje, pelo realismo que transmitiam. O tesão de que ela fala estava ali -pelo menos era essa mensagem que os dois passavam. A atriz lembra que, desde os primeiros encontros de preparação, era falado que eles seriam “o casal quente da novela”.
Mas ela afirma que, pensem o que quiserem: era tudo beijo técnico, marcadinho. “A mão que vinha passando na bunda… se tinha, era porque tava marcado”, garante ela. “Os braços, as mãos, tudo era marcado com a câmera para dar essa sensação de química forte. Era tudo combinado e nunca tive problemas com isso.”
Ranaldi hoje vive afastada da telinha -seu último trabalho de longa duração dentro da teledramaturgia foi “Em Família”, de 2014. Quase dez anos depois, muitos espectadores ainda param a atriz nas ruas perguntando o que anda fazendo longe das novelas.
Em entrevista ao F5, ela volta a falar sobre o assunto: “Tenho trabalhado mais do que na Globo. Fui convidada a fazer três peças em São Paulo, deixei o Rio de Janeiro e viajei o Brasil com espetáculos. No fim, acumulei funções nesse período todo, já que passei a produzir, fazer figurinos, atuar como continuísta… muito trabalho mesmo.”
Seu último projeto segue em finalização. Após protagonizar e auxiliar na produção da peça “Cordel do Amor Sem Fim”, com texto de Cláudia Barral, Helena conseguiu fazer o projeto ser adaptado o cinema.
As gravações terminaram no ano passado e a pós-produção foi encerrada “poucos dias atrás”. “A intenção agora é levar o filme a festivais”, anima-se.
A artista, no entanto, garante que voltaria à teledramaturgia caso surgisse um personagem que valesse a pena, em um momento propício… Ou seja, sem pressa. Ela diz ter sido procurada recentemente para protagonizar uma novela a ser rodada em Portugal. Não quis. “Já falei não para vários trabalhos… Para mim, era impossível deixar o país por tanto tempo. Não é o momento.”