Eliane Giardini entra em ‘Terra e Paixão’ para tentar reaquecer novela da Globo
Desde sua estreia, em maio, a novela “Terra e Paixão” tem tido dificuldades de cair no gosto popular.
Embora a audiência mais recente tenha mostrado uma alta no interesse do público, com média atual na casa dos 28 pontos no Ibope, a Globo claramente tem tido empenho em trazer mais calor à trama de Walcyr Carrasco e Thelma Guedes.
Na última semana, a emissora veiculou em vários instantes de sua programação uma espécie de teaser mostrando novos rumos que em breve apresentará.
O vídeo, em clima de tensão e alta voltagem emocional, se encerra com o surgimento de uma nova personagem, Agatha –ou, na verdade, uma que era dada como morta, mas que em breve ressurgirá, trazendo nova agitação à trama das nove. Apenas no último frame, o vídeo mostra o rosto da atriz que a interpretará: Eliane Giardini.
“Eu já sabia desde fevereiro. Já era prevista a entrada da personagem”, diz Giardini, contradizendo as especulações de que a “ressurreição” de Agatha teria sido uma estratégia improvisada, apenas para atear fogo à novela diante da morna repercussão junto ao público. “É que logo fui fazer a segunda temporada da série ‘Encantado’s’, e as gravações duraram até julho. Aí, no dia 1º de agosto, já comecei a gravar a novela”, diz a atriz.
Sua personagem já apareceu na trama em flashbacks, interpretada pela atriz Bianca Bin. Era mulher de Antônio, vivido por Tony Ramos, que teria morrido durante o parto de Caio, na fase adulta interpretado por Cauã Reymond.
Na verdade, Agatha se fez de morta e fugiu, com medo de ser assassinada. Passou vários anos em um presídio, no Rio de Janeiro, por um crime que ela diz não ter cometido, mas agora que cumpriu a pena, voltará à fictícia cidade sul-mato-grossense de Nova Primavera, ajudando a injetar novo gás à atração global.
“Nossas novelas são gigantes. ‘Terra e Paixão’ vai ter mais de 200 capítulos. De tempos em tempos precisa aparecer alguma coisa nova que dê impacto”, diz a atriz, que assume saber ainda pouco sobre a personagem e que, de uma hora para a outra, novos elementos sobre Agatha poderão fazê-la ter que acrescentar novas nuances a sua composição. “Eu acho bom fazer novela, trabalhar em suspensão o tempo todo.”
Na semana passada, rumores diziam que Agatha estaria com problemas sérios de saúde, mas esse detalhe Giardini diz desconhecer.
“Isso de doença nem estou sabendo. Novela é algo que se vai fazendo. Eu tenho algumas coordenadas sobre a personagem. Sei que ela foi muito vitimizada pela vida, aí em um momento ela fugiu, depois de se fazer de morta. Mas aos poucos ela vai mostrando seu lado interesseira. Não é uma ‘fofa’, mas tem sentimentos verdadeiros, sobretudo o amor pelos filhos.”
Giardini não tem tido folga desde o começo das gravações. Recentemente, reestreou em São Paulo no teatro o espetáculo “Intimidade Indecente”, em cartaz no Renaissance até o fim de outubro. No palco, sob direção do também ator Guilherme Leme, a atriz contracena com o amigo Marcos Caruso em um texto de Leilah Assumpção, sobre os encontros e desencontros de um casal.
“De segunda a sexta gravo [a novela] no Rio, e aos sábados e domingos fazemos o espetáculo em São Paulo. Eu amo trabalhar, para mim é sempre algo muito prazeroso”, conta, aparentando mais alegria do que cansaço com essa rotina de uma semana sem dias de folga.
“Quando você fecha um trabalho em teatro, você já fica com a partitura da personagem. Para mim é uma diversão, um descanso.”
Sem trocar de figurino ou mudar a maquiagem, Giardini e Caruso surgem em cena com um desafio extra: dar vida a dois personagens que transitam dos 60 aos 90 anos. Para compreender a passagem do tempo, o público precisa se ater aos indícios de mudança física que os atores demonstram no palco.
“Esse é um dos grandes encantos da peça”, ela diz, ressaltando que, para mostrar a passagem dos anos, o trabalho vocal talvez seja o mais importante.
Giardini começou a carreira ainda nos anos 1970, em Sorocaba, sua cidade natal, no interior de São Paulo. Chegou a estudar filosofia, mas não resistiu aos apelos da vida artística e acabou se lançando como atriz.
Mas o primeiro papel que lhe deu real projeção em todo o Brasil veio só em 1993, na novela “Renascer”, em que interpretava Iolanda, mais conhecida entre o público como “Dona Patroa”, a forma como seu marido machista, vivido por Herson Capri, se referia a ela.
Na época, muitas mulheres se identificavam com a opressão que a personagem sofria. Tinha um subtexto feminista há 30 anos, bem antes de a pauta ganhar adesão exponencialmente nos últimos anos, sobretudo com o apoio das redes sociais.
“Não tem como não ser feminista sendo mulher. As pessoas costumam ter um mau entendimento sobre o que é ser feminista. A gente sabe a diversidade entre o homem e a mulher, não é sobre isso [de opor um ao outro]. A gente quer as mesmas oportunidades e direitos”, diz.
Embora não seja lá muito afinada com o mundo virtual e nem use redes sociais, a atriz acredita que os tempos atuais e o ativismo digital têm enorme importância para uma maior emancipação das mulheres.
“Estamos vivendo um momento excepcional. Pode até ser que não haja muita mudança imediata. Mas existe uma escuta, o que é ótimo.”