‘Señorita 89’ critica concursos de beleza e inspira debate sobre feminismo
Escrita por três mulheres, a série dramática ficcional de oito capítulos segue os passos de quatro das 32 misses que chegam à paradisíaca La Encantada para se preparar para o Miss México, em 1989.
“Señorita 89“, série original da Pantaya e do Starzplay, que estreia neste domingo (27), aborda muito mais do que o universo glamouroso dos concursos de beleza e todas as pressões que envolvem as candidatas. A série usa o ambiente dos concursos para contar o momento político de um país e inspirar debate sobre o feminismo.
Escrita por três mulheres, a série dramática ficcional de oito capítulos segue os passos de quatro das 32 misses que chegam à paradisíaca La Encantada para se preparar para o Miss México, em 1989. Neste local, repleto de segredos, elas terão que brigar pela coroa e para saírem vivas da competição.
Concepción (Ilse Salas) é a matriarca do concurso e responsável por realizar ou destruir os sonhos das candidatas na principal disputa de beleza do país. No pano de fundo, são abordados temas como padrões de beleza, violência e assédio sexual, que eram pouco discutidos na época em que se passa a história.
“Naquela época, tudo o que nos escandaliza hoje estava permitido. Não é um slogan publicitário, é real, era muito grande o consumo do corpo da mulher em relação ao mundo do espetáculo e pela mídia em certos países, como era no México”, explica Lucia Puenzo, uma das roteiristas e diretoras da série. para ela, a história poderia se passar em qualquer país da América Latina.
Puenzo diz que uma das preocupações dos roteiristas e diretores foi não cair no tremendo erro de vitimizar as personagens, mas mostrar elas com suas nuances e complexidades. Para ela, a trama mostra que muitas das jovens travavam batalhas silenciosas contra tudo isso.
“Estava sobre as cabeças delas todos os sonhos da sua família e o medo que tinham de abrir a boca, falar, de sair, de não ser cúmplice. Esse universo é a desculpa para falar de outras coisas.”
Além dos dramas enfrentados pelas jovens, a série também mergulha em seus interiores, mostrando como cada uma pode agir diante de um mesmo objetivo, que nesse caso é vencer o concurso de miss. “As batalhas dos últimos anos mostraram a força das redes femininas e como as mulheres quando trabalham são muito poderosas.”
A atriz Ilse Salas diz que entrou no projeto por tratar questionamentos sobre gênero e a luta feminista do passado e do presente. Ela revela que gravar a série trouxe recordações da infância de quando assistia aos concursos de beleza aos domingos com a mãe e o irmão e julgava a aparência das misses.
“Me lembro de ser essa pessoa monstruosa dizendo ‘tirem essa, ela é feia’ ou ‘que pernas gordas’. Eu fui essa pessoa aos 12 anos, me questionei muito tempo depois de adulta quando comecei a ter essas epifanias feministas.”
Mesmo assim, a atriz defende sua personagem Concepción dizendo que ela não é tão malvada como parece e pede para que todos assistam a série até o final. “Ela não é uma mulher tão fácil de definir, é cheia de contradições e vulnerabilidade. Ela não é um personagem má, logo você vai descobrir.”
Na série, o público vai se aprofundar no mundo da “Señorita 89” por meio da personagem Elena (Ximena Romo), que na trama acaba de concluir seu mestrado sobre o tema da beleza. Ela é contratada por Concepción para ensinar cultura às misses, mas chega neste mundo cheia de preconceito contra as jovens e o concurso.
Romo explica que sua personagem acredita ser a heroína que vai salvar essas garotas, que acreditam viver um conto de fadas. Mas tudo vai se transformando no decorrer da história. “Ela vai entender que está incluída em um sistema patriarcal e machista ao qual todas nós estamos sujeitas, porque é um sistema muito grande que submete a todas nós.”