O que o novo trailer de ‘Animais Fantásticos’ revela
Alguns jornalistas estrangeiros já haviam dito que a cidade não apareceria no filme depois de terem assistido às primeiras cenas da produção num evento dedicado ao mercado cinematográfico europeu.
Milhares de fãs foram à loucura quando J. K. Rowling revelou que o terceiro filme da franquia “Animais Fantásticos”, derivada de “Harry Potter”, seria ambientado no Rio de Janeiro, a capital do Brasil na década de 1930, época em que o filme se passa.
Na ocasião, Rowling publicou uma foto de uma rua no centro carioca. “É o Rio da Janeiro”, ela explicou no Twitter aos fãs estrangeiros que não conheciam o cenário -e logo tratou de corrigir do erro de grafia, dizendo que, depois do tanto que havia escrito a palavra nos últimos meses, já deveria saber escrever corretamente.
Três anos se passaram, e o primeiro trailer de “Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore”, lançado nesta segunda-feira, não tem nenhuma cena no Rio. Alguns jornalistas estrangeiros já haviam dito que a cidade não apareceria no filme depois de terem assistido às primeiras cenas da produção num evento dedicado ao mercado cinematográfico europeu.
Isso não significa, no entanto, que o Brasil não terá seu papel em “Animais Fantásticos”. Embora revele pouco sobre a narrativa, o trailer mostra que haverá uma eleição no mundo mágico da qual uma bruxa brasileira participará. É Vicência Santos, a personagem de Maria Fernanda Cândido.
Os fãs especulam há anos sobre a escalação da atriz, que publicou no Instagram uma foto num camarim semelhante ao que é usado por outros artistas da franquia e disse que estava filmando na Inglaterra, onde ficam os estúdios de “Harry Potter”. A partir do lançamento do trailer, Cândido confirmou em suas redes sociais que faz parte do elenco.
Embora ela própria não apareça no trailer, há várias cenas que trazem sua imagem retratada em cartazes espalhados pelos comícios de um pleito que haverá no filme, em que sua personagem enfrentará um bruxo chinês. Os cartazes atribuem a Santos o cargo de chefe suprema da Confederação Internacional dos Bruxos, título que ela pode estar concorrendo numa eleição ou reeleição.
Em “Harry Potter”, a confederação é equivalente à ONU, a Organização das Nações Unidas. A entidade trata de assuntos governamentais do mundo da magia -entre eles, como os bruxos devem se ocultar para viver entre os “trouxas”, como são chamadas as pessoas sem magia.
A relação entre os bruxos e os trouxas é, aliás, o fio condutor da franquia. Esse conflito, que vem sendo apresentado em doses homeopáticas desde o primeiro entre os cinco filmes planejados, deve tomar forma em “Os Segredos de Dumbledore”, que chega aos cinemas em 14 de abril, três anos e meio após o lançamento de “Os Crimes de Grindelwald”, o segundo filme.
É que Grindelwald -o grande bruxo das trevas que precedeu Voldemort, o vilão de “Harry Potter”- acredita que os bruxos devem dominar os trouxas e governar o mundo como bem entenderem, por serem superiores a quem não tem magia -uma inspiração que Rowling diz ter buscado em líderes supremacistas como Hitler.
Diferentemente de Voldemort, no entanto, Grindelwald prefere palavras a feitiços. Sua escalada supremacista não é calcada na violência, mas em discursos que encantam as multidões de bruxos que estão cansados de viver escondidos -outra inspiração que a autora diz ter buscado em líderes políticos populistas, tanto do passado quanto do presente.
Dumbledore, interpretado por Jude Law, tenta impedir a concretização dos planos de Grindelwald, vivido por Mads Mikkelsen, que entrou em cena depois que a Warner pediu que Johnny Depp deixasse o papel em meio à batalha judicial que ele enfrenta com sua ex-mulher, a atriz Amber Heard, que o acusa de a ter agredido.
O problema é que Dumbledore não pode enfrentar Grindelwald ele próprio devido ao pacto de sangue que eles fizeram quando eram adolescentes e viviam uma paixão às escondidas -uma narrativa que desagradou a parte dos fãs, por ter sido pouco explorada nos primeiros filmes, mas que também deve tomar forma a partir deste lançamento.
É a Newt Scamander, o protagonista da franquia, que Dumbledore então pede ajuda. Interpretado por Eddie Redmayne, vencedor do Oscar de melhor ator por “A Teoria de Tudo”, Scamander é um magizoologista, ou seja, um bruxo que estuda animais mágicos. Enquanto tenta ajudar seu mentor a derrotar Grindelwald, ele procura por criaturas mágicas -os animais fantásticos do título da franquia- para escrever um livro, aos moldes do que fez Charles Darwin. Por isso, os fãs especularam que seria inevitável sua vinda ao Brasil.
Embora o trailer tenha cenas ambientadas em matas de vegetação tão densa quanto à da Amazônia, não é possível decretar que o bruxo realmente visitará o Brasil, como prometido por Rowling. O objetivo do comercial não é revelar a trama do filme, mas empolgar os fãs com referências a “Harry Potter”, seja por meio da aparição dos vários cenários de Hogwarts, a escola que Harry Potter frequentou, seja pela inclusão de uma cena que vem da própria franquia anterior.
É uma estratégia que pode levar mais espectadores às salas de cinema ante à queda de 20% de bilheteria do segundo filme da franquia em relação ao primeiro, além de disfarçar as polêmicas que envolvem a série, como as acusações de transfobia que Rowling enfrenta nas redes sociais.
Nostalgia, afinal, parece sinônimo de sucesso. Prova disso é que, ao retornar aos cinemas para comemorar seus 20 anos de lançamento, “A Pedra Filosofal”, o primeiro filme de “Harry Potter”, levou 322 mil brasileiros às salas de cinema, quase todas com sessões esgotadas, e fez nada menos do que R$ 6,6 milhões num único dia de exibição -mais do que qualquer outro filme em cartaz no mesmo período.