Novo ‘Ghostbusters’ ignora versão feminina e tem caça-fantasmas mirins

Nos bastidores, esse movimento de passar o bastão, de herdar uma enorme responsabilidade deixada por um parente, também acontece.


Por Folhapress Publicado 18/11/2021
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A trama de “Ghostbusters: Mais Além”, de certa forma, ecoa a realidade. No filme que chega nesta quinta (18) aos cinemas, conhecemos os netos de Egon Spengler, cientista que grudou no imaginário popular com “Os Caça-Fantasmas”, clássico oitentista sobre um grupo de estudiosos excêntricos que salva Nova York de um ataque fantasmagórico.


Apesar de nunca terem tido uma relação com o especialista em fenômenos paranormais, seus descendentes passam a ocupar, ao longo do filme, seu lugar de caçador de fantasmas, conforme ameaças do além se apossam da cidadezinha onde moram.


Nos bastidores, esse movimento de passar o bastão, de herdar uma enorme responsabilidade deixada por um parente, também acontece. Diretor de “Mais Além”, Jason Reitman é filho de Ivan Reitman, cineasta por trás do “Caça-Fantasmas” original, de 1984, e de sua sequência, de 1989.


Apesar de ter pensado que nunca se debruçaria sobre o principal legado de sua família para Hollywood, Jason foi seduzido por esse paralelo entre filme e realidade. De fato, até pouco tempo atrás, seria difícil pensar que o canadense se renderia aos grandes estúdios e a seu apetite voraz por sequências, refilmagens e derivados.


Aos 44 anos, ele fez fama em Hollywood descolado da imagem do pai -este mas afeito a comédias e romances água com açúcar, como “Júnior”, “Um Tira no Jardim de Infância” e “Sexo Sem Compromisso”. Jason, por outro lado, tem no currículo histórias mais profundas e respeitadas, do calibre de “Juno” e “Amor Sem Escalas”, pelas quais foi indicado ao Oscar de melhor direção.”Esse novo projeto foi completamente intimidador, porque eu nunca fiz um filme que não pertencesse a mim desde o princípio”, diz Jason por videoconferência. “Esse é um filme que pertence ao mundo, e eu tenho sorte de assumir essa responsabilidade e de ter feito isso sentado ao lado do meu pai.”


Ivan Reitman é produtor de “Mais Além” -repetindo o cargo que já assumiu em outros longas do filho. Ao ser questionado sobre a experiência do trabalho em dupla, Jason brinca. “Imagina como seria você levar seus pais para o trabalho todos os dias, para opinarem sobre tudo o que você faz -é bem desafiador”, diz.


Muito antes disso, no entanto, o pai tinha o hábito de levar o filho, então com seis anos, ao set de filmagem dos dois “Caça-Fantasmas” da década de 1980. Apesar disso, e de acompanhar como eram criados os fantasmas de gosma verde no mundo real, Jason diz que sempre foi “como qualquer outra criança da época, que queria ser um caça-fantasma”.


“E esse novo filme fala disso, ele foi feito para dialogar com essa vontade de vestir uma mochila de prótons ou dirigir o Ecto-1”, afirma.


Forte presença no imaginário geek, os itens mencionados pelo cineasta eram indispensáveis para que o quarteto do filme de 1984 -formado por Bill Murray, Dan Aykroyd, Ernie Hudson e Harold Ramis, intérprete de Egon morto há sete anos- combatesse os vilões. Com a mochila, eles capturavam os fantasmas; com o veículo, os perseguiam pelas ruas de Nova York.


A descoberta do carro pelos netos de Egon, em “Muito Além”, os impele a vestir os trajes dos caça-fantasmas e a enfrentar, eles próprios, as entidades que resolveram ameaçar o planeta após décadas adormecidas. Esta é, portanto, uma trama movida por personagens adolescentes, o que deve aproximar as gerações mais novas dessa verdadeira relíquia cinematográfica que é a franquia, com seus quase 40 anos de idade.


Mas este é um filme para todos, avisa Jason. Foi pensado para os fãs de “Os Caça-Fantasmas”, como ele, mas também planeja atingir um novo grupo demográfico, mais ou menos como o reboot de 2016, estrelado apenas por mulheres, tentou fazer. Não deu muito certo, e o que antes era promessa de uma nova saga deu origem a “Muito Além”, uma sequência direta para a trama dos anos 1980.


Com quatro filmes na conta, símbolos enraizados na cultura pop, diversos itens de merchandising vendidos e um apelo atemporal, “Os Caça-Fantasmas” pode se expandir no futuro breve. Jason Reitman, ao menos, acredita que há espaço para isso.


“Eu acho que ‘Caça-Fantasmas’ pode inspirar uma mitologia gigantesca, e eu espero estar criando agora as bases para que todos os tipos de filmes saiam da franquia”, diz ele sobre a atual era de universos compartilhados, encabeçada pelo Universo Cinematográfico Marvel.


“Eu não falo só de filmes americanos, porque todas as culturas no mundo têm uma relação com o espiritual, o inexplicável. E nós adoraríamos ver diferentes diretores contribuindo para a história dos ‘Caça-Fantasmas’.”