Documentário aponta relação entre milícia e jogo do bicho no RJ
A produção estreia nesta sexta-feira (29) na TV a cabo.
O jogo do bicho, que nasceu em um contexto bucólico há 130 anos no Rio de Janeiro, funcionou como uma das principais estruturas para a consolidação do poder paralelo no estado conhecido como milícia, segundo um dos quatro episódios do documentário “Lei da Selva – A História do Jogo do Bicho”.
A produção estreia nesta sexta-feira (29) na TV a cabo. “A milícia nasceu de forma independente quando policiais aposentados se juntaram para fazer a segurança de Rio das Pedras”, diz o diretor Pedro Asbeg sobre o bairro na zona oeste carioca. “O jogo do bicho, então, entendeu ser preciso se aproximar desses grupos para dar continuidade aos negócios”, continua.
A partir de 2005, o jogo ilegal, ao lado da exploração das máquinas caça-níquel, passou a dividir os territórios dominados pelos milicianos como parceiros de negócios.
Esse ponto de inflexão foi marcado por uma série de mortes de pessoas ligadas ao jogo do bicho, entre elas a de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, morto em 2004 após tentar dominar o território de Rogério Andrade, sobrinho do conhecido contraventor Castor de Andrade.
Diante da ameaça, Rogério de Andrade decidiu reforçar sua segurança pessoal e, para isso, contratou policiais temidos por seus métodos violentos, entre eles, Ronnie Lessa, réu pela morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em 2018.
Créditos ao final do último episódio dedicam a série à memória de Marielle. O pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PSB, Marcelo Freixo, é um dos entrevistados e narra o momento em que soube da morte da companheira de partido.
Além de Lessa, o documentário mostra a relação do jogo do bicho com outro personagem policial famoso, Adriano da Nóbrega, assassinado em 2020 acusado de chefiar a maior milícia do Rio de Janeiro.
Segundo o diretor Asbeg, ele trabalhou como segurança pessoal do bicheiro Maninho e como consultor de segurança quando fundou o escritório do crime para Rogério Andrade.
Um dos episódios mostra que Nóbrega passou a chefiar um grupo de matadores profissionais que ganhavam dinheiro para cometer homicídios sob encomenda. “O jogo do bicho sempre teve matadores profissionais em sua folha de pagamento. Quando essa nova geração assume, eles percebem que podem terceirizar essa função”, diz o jornalista Octavio Guedes no documentário.
O documentário ressalta a ligação de Adriano da Nóbrega com Fabrício Queiroz, acusado de liderar um esquema de rachadinha no gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) –eles negam.
Os episódios são narrados pelo humorista Marcelo Adnet, que encarna “um coroa sentado em um boteco na Vila Isabel contando para os camaradas sobre a história do jogo do bicho”, segundo o diretor.
O bairro da zona norte carioca é citado porque foi lá que nasceram as apostas em números e animais, em 1892. Na época, o barão João Batista Viana Drummond organizava sorteios diários de bilhetes para atrair visitantes e impedir o fechamento do zoológico do Rio de Janeiro, que ficava em Vila Isabel.
O documentário com quatro episódios será transmitido semanalmente no Canal Brasil a partir das 22h30.