Nova obra sobre Suzane von Richthofen tem omissões e falhas
Suzane von Richthofen, estudante de direito da classe média alta paulistana que, aos 18 anos, arquitetou a morte dos próprios pais.
Poucos assuntos provocam tanto interesse nos brasileiros quanto Suzane von Richthofen, estudante de direito da classe média alta paulistana que, aos 18 anos, arquitetou a morte dos próprios pais.
Prova disso é que, passados 18 anos, a história é tema de dois filmes a serem lançados e também de livro-reportagem escrito pelo jornalista Ullisses Campbell, que chega às livrarias nesta quinta-feira (23), com o título “Suzane – Assassina e Manipuladora”.
Publicada pela editora Matrix, a obra de Campbell é fruto de uma pesquisa de três anos, entre leitura de documentos e entrevistas.
A obra seria lançada inicialmente pela editora Contexto, que desistiu da publicação. O livro de Campbell também sofreu censura da Justiça de São Paulo, a pedido de Suzane, por decisão da juíza Sueli Zeraik de Oliveira Armani, de Taubaté. O veto foi derrubado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
Entre os mais de cem entrevistados para a obra, os mais importantes são os irmãos Cravinhos. Daniel e Cristian Cravinhos foram os responsáveis pelos golpes que mataram, em outubro de 2002, os pais de Suzane, Marísia e Manfred, enquanto dormiam. Daniel era namorado de Suzane à época, relacionamento indesejado pela família da moça e que acabou desencadeando o crime.
Os três foram condenados a penas superiores a 38 anos de prisão cada um.
Mesmo não conseguindo entrevistar Suzane e seu irmão Andreas, Campbell consegue remontar o contexto desse relacionamento entre Suzane e Daniel, o conflito familiar provocado pelo namoro, o planejamento do crime e como os policiais conseguiram desvendá-lo.
O autor não indica, em momentos importantes, a fonte das informações, como em cenas de diálogos. Um exemplo são conversas reproduzidas entre Suzane e a mãe e entre Suzane e o irmão.
“Sobre as questões dos diálogos, eles foram reconstituídos a partir de depoimentos dados pelos interlocutores citados na obra, seja na fase de inquérito ou na parte processual. Parte dos diálogos também foi recuperada por meio de entrevistas feitas com pessoas citadas no livro”, afirma o autor. “A obra é um livro-reportagem escrito no estilo do jornalismo literário, ou seja, é uma literatura não-ficcional. Não há passagens ficcionais nele.”
O livro também acompanha a vida dos criminosos após a condenação, tanto de Suzane quanto dos irmãos Cravinhos, e traz detalhes da vida íntima do trio.
A obra traz detalhes sobre o suposto pagamento por Gugu Liberato de R$ 120 mil pela entrevista concedida por Suzane a seu programa, em fevereiro de 2015, quando o apresentador retornava à TV após um período de afastamento.
Além do dinheiro, que teria sido depositado na conta da presidiária, o apresentador que, morreu em novembro do ano passado, também teria cedido três máquinas de costura ao custo unitário de R$ 12 mil, segundo a obra. A entrevista foi veiculada pela TV Record.
Foi nessa entrevista que Suzane confirmou seu relacionamento amoroso com Sandrão, apelido de Sandra Regina Ruiz Gomes, condenada pelo sequestro e morte de um garoto de 14 anos. As máquinas de costura acabaram sendo motivo de disputa entre as namoradas.
O autor também deixa de informar ao leitor que tiveram os nomes trocados três presas que conviveram com Suzane, cujas histórias são contadas no livro. Não há nenhum alerta sobre isso nas referências.
A reportagem só tomou conhecimento da troca dos nomes ao questionar Campbell sobre as presas, após procurar e não encontrar o registro delas no sistema prisional paulista nem a publicações de suas histórias em jornais.
“Todo o conteúdo passível de publicação está contido no livro. Eventuais questões sobre personagens não podem ser detalhadas além do exposto nas páginas por razões que envolvem sigilo da fonte”, diz ele.
Outra inconsistência diz respeito à bancária Sherminne, que Cristian conheceu em 2005, por intermédio de um amigo surfista. Ela teria causado a prisão dele em 2018. “Para monitorar os passos do ex, a bancária (Sherminne, de 42 anos) instalou um rastreador na moto Yamaha. O equipamento mostrava no aparelho do celular dela a localização do veículo de Cristian em tempo real”, diz o livro.
Em determinado dia, a bancária teria seguido o namorado com a ajuda do rastreador e o encontrou com outra, o que deu início a uma discussão que fez com que a polícia fosse ao local. Como estava em regime semi-aberto e teria problemas por isso, Cristian tentou subornar os PMs.
No mesmo capítulo, é citada reportagem da revista Veja, escrita pelo próprio Campbell em 2018, como origem da revelação dessa briga e de uma relação homoafetiva de Cristian.
Os detalhes narrados na reportagem da Veja, porém, são diferentes do relato do livro em quatro pontos. A reportagem diz que a namorada de Cristian se chamava Linny Silva, de 29 anos, e que ele a havia conhecido em uma “saidinha” quando estava preso. A moça teria instalado um localizador no celular de Cristian.
Sobre a divergência, o autor disse o correto é o que está no livro. “Sherminne [é o correto]. Na Veja foi usado o apelido Luny [sic] a pedido dela”, disse.
A obra tem também outras pequenas falhas de apuração: o salário pago pelo estado a presos (o correto é ¾ do salário mínimo), o sobrevoo de helicóptero do Corpo de Bombeiros em São Paulo (não existe) e nome com “s” a mais do chefão do PCC, Marco Willians Herbas Camacho.
Há erro também no relato das circunstâncias e local da morte César Augusto Roriz Silva, o Cesinha. A obra diz que ele foi morto após delação da mulher, em uma cela do Carandiru, mas ele foi morto em Avaré (262 KM da capital), em uma disputa direta com Marcola. O autor disse que fará a correção na próxima edição.
Procurada, a TV Record não se pronunciou. O assessor de Gugu Liberato, Gustavo Coimbra, disse não acreditar na informação sobre o pagamento a Suzane pela entrevista.
SUZANE – ASSASSINA E MANIPULADORA
Autor: Ullisses Campbell
Editora: Matrix
Preço: R$ 57,90 (280 págs.)