Cao Hamburger, criador de Castelo Rá-Tim-Bum, lamenta falta de programas infantis na TV aberta
Ao todo, ele conta que foi mais de um ano até chegar no formato do programa.
Desenhos pela manhã não fazem mais parte do repertório da maior parte das crianças brasileiras. Também não há castelos mágicos ou brincadeiras disponíveis na TV. Isso porque faltam programas infantis nos canais abertos, segundo avaliação do roteirista e cineasta Cao Hamburger, 57.
Criador do famoso Castelo Rá-Tim-Bum, que ficou no ar entre 1994 e 1997, na TV Cultura, Cao foi um dos homenageados nesse primeiro dia de CCXP (Comic Con Experience 2019), que acontece até domingo (8) em São Paulo, e falou sobre o programa que completa 25 anos neste ano.
Segundo Cao, Castelo Rá-Tim-Bum não foi uma obra do acaso, mas sim o resultado de muitos anos de investimento da TV Cultura em programas infantis. Segundo ele, duas outras tentativas de suceder o também famoso Rá-Tim-Bum (1990-1994) já tinham sido feito antes do sucesso de Castelo.
“Eu cheguei num lugar onde todo o mundo sabia fazer programa infantil. Conversava com a secretária sobre”, disse ele, que classificou Castelo Rá-Tim-Bum como muito atual nos quesitos conteúdo e formato. “Só não daria para passar hoje por questões técnicas, usamos câmeras muito antigas.”
Ao todo, ele conta que foi mais de um ano até chegar no formato do programa. Já as gravações contaram com o que tinha de mais atual na época, como as câmeras, maquetes e pinturas em vidro. “Não tinha muito dinheiro, mas tinha uma equipe muito boa e criativa”, afirma.
Como resultado, ele diz que canais internacionais logo se interessaram e tentaram comprar os direitos do programa, mas a TV Cultura decidiu não vendê-los. “Ele seria conhecido antes de ‘Harry Potter'”, afirma ele ao comparar o toque sombrio de Castelo Rá-Tim-Bum e a franquia de J.K. Rowling.
Apesar de considerar Castelo Rá-Tim-Bum um programa atual, Cao afirmou que os vilões de hoje seriam piores, fazendo referência ao governo Bolsonaro: “Os vilões que gostariam de destruir o castelo talvez fossem piores que o dr. Abobrinha. São as pessoas que cuidam da ciência, da educação no Brasil.”
Segundo Cao, o castelo da atração infantil foi criado como um museu da cultura, guardando tudo de bom que a humanidade já criou e que, no contexto atual, Morgana (Rosi Campos) e dr. Vitor (Sérgio Mamberti) enfrentariam vilões piores, crítica que fez a plateia do auditório principal explodir em aplausos.
PROGRAMAS ATUAIS
Filho de dois cientistas, Cao conta que teve como sua maior influência a televisão, cresceu com ela. “Sou daquela época da ‘televisão me deixou burro, burro demais'”, brinca ele, citando a música do Titãs. Entre os programas que recorda estão Batman, Star Trek, Bonanza, além das novelas e dos desenhos da Disney.
Questionado sobre os programas infantis de hoje, Cao lamentou as poucas opções voltadas às crianças na TV aberta, apesar de elogiar bastante as produções nacionais disponíveis nos canais por assinatura e nas plataformas de streaming, destacando a Galinha Pintadinha.
Defendendo maiores investimentos em educação, Cao afirmou que atração infantil não precisa ser educativa, assim como muito programa educativo é chato. Mas conseguir juntar os dois e fazer um programa educativo e atraente para as crianças é muito bom, importante.
“Mas é importante lembrar que educação não depende do entretenimento. Então cabe a nós cobrarmos educação pública, que é responsável pela formação de 84% da população. Estamos vivendo um período inacreditável, um pesadelo na educação. A sociedade precisa cobrar a política.”