Cleo se arrisca como produtora e diz que foi motivada pela onda de censura no Brasil
A ideia de Cleo é produzir conteúdos de temática social, artística e cultural para seu IGTV no Instagram. O coquetel de lançamento teve a presença de convidados e imprensa.
Há 16 anos, Cleo, 36, fazia a sua primeira aparição no cinema, no longa “Benjamin” (2003). A exibição foi no Cine Odeon, polo cinematográfico do Rio. Foi no mesmo local que ela estreou, na tarde desta terça (1º), como produtora executiva do projeto “Cleo on Demand”.
A ideia de Cleo é produzir conteúdos de temática social, artística e cultural para seu IGTV no Instagram. O coquetel de lançamento teve a presença de convidados e imprensa.
“O que me motivou [a criar o projeto] foi essa onda de censura e ignorância que estamos vivendo”, disse a atriz.
Cleo não consegue dar uma definição exata para seu novo negócio. Diz apenas que “queria trabalhar com certas pessoas, fazendo certos conteúdos”, e que tem vontade de distribuir o material para outras plataformas, se houver manifestação de interesse por parte delas.
A cada trimestre, ela irá disponibilizar programas e séries inéditas para levar reflexão e conhecimento ao público por meio do entretenimento.
Nesta quarta (2), serão disponibilizados no IGTV de Cleo a série de ficção “Onde Está Mariana?” e o programa “Expressão”. Em 15 de outubro, é a vez da animação “Free Girls”.
“Queremos transformar isso numa plataforma on demand, com conteúdos que a gente gosta e que gostaríamos que tivessem mais incentivo para serem produzidos. Não temos nada muito definido de planos para o futuro”, afirma a filha de Gloria Pires.
“Onde Está Mariana?”, por exemplo, reflete sobre a cultura do feminicídio e as faces do machismo. A série conta a história da jovem Mariana (MC Rebecca), 23, que terminou recentemente um relacionamento abusivo e assumiu a sua bissexualidade, mas então desaparece.
A trama gira em torno da busca da jovem pela sua família e por amigas. Valesca Popozuda faz Fabíola, uma das amigas de Mariana.
MC Rebecca conta que nunca imaginou trabalhar como atriz. “Assistia muitas séries e filmes e ficava com vontade de atuar. O processo de preparação foi muito intenso. Tivemos que misturar ódio, amor, paixão… Várias emoções.
Nunca tinha vivido isso. Pude também entender mais sobre a história do feminismo. Às vezes a gente sofre machismo sem saber”, afirma.
Com lágrimas nos olhos, Valesca Popozuda revela que, assim como sua personagem, já viveu violência doméstica. “Não só eu, mas minha mãe também. Quando eu era criança, tive que apagar o fogo que tinham colocado na minha mãe. Ela estava em chamas”, relata. A funkeira disse que também já viveu um relacionamento abusivo de dois anos que lhe deixou abalada psicologicamente.
Assim como Popozuda, a rapper King, que dará vida a Erika, irmã de Mariana, diz que sua família já viveu um drama parecido com o da protagonista da série.
“Na série, abordamos o machismo de maneira micro e macro. É informativo e as pessoas vão entender como são afetadas por isso. O que aconteceu com a personagem Mariana aconteceu na minha família, com minha prima, há 12 anos”, conta ela.
King confessa que foi difícil acessar essas memórias familiares na preparação para a série que teve duração de quatro dias.
A atriz Vilma Melo, que interpreta Virgínia, mãe de Mariana na trama, ressalta que não existe uma mulher no mundo que não tenha sofrido algum tipo de abuso. “Todas nós sofremos. E existe um recorte do feminicídio da mulher preta, e por uma questão histórica essas mulheres se encontram na periferia. Então ter um canal desse [na internet] é sensacional.”
Já o programa “Expressão” é apresentado pelo artista plástico Rômulo DeuCria, que desenvolve um trabalho na moda em que customiza e ressignifica peças de roupas de artistas convidados – entre eles, Giovanna Ewbank e Sabrina Sato.
Por fim, a animação “D.I.V.A.”, de cinco episódios e feita por Felipe Serafim, conta a aventura das três heroínas que trabalham contra os crimes de homofobia e feminicídio pelo mundo. São elas: Cleo, Pepita e MC Rebecca.
Pepita afirma que nunca trabalhou como dubladora e que pensou em recusar o convite quando Cleo a chamou para fazer parte. “Mas no fim das contas acho que como seres humanos, temos que provar outros temperos, não sermos apenas um”, disse, animada.