Qual a diferença entre rainha, madrinha e musa em uma escola de samba?
Apesar de as mulheres que incorporam esses cargos desfilarem por toda a avenida e encantarem o público com sua desenvoltura, elas têm atribuições diferentes.
Plumas, brilhos e muito samba no pé são apenas algumas das características das madrinhas e rainhas de Carnaval das escolas de samba. Apesar de as mulheres que incorporam esses cargos desfilarem por toda a avenida e encantarem o público com sua desenvoltura, elas têm atribuições diferentes.
Em meio a sambas-enredos envolventes e carros alegóricos chamativos em uma festa que é para ser sentida e celebrada, as definições de madrinha, rainha e princesa acabam ficando um pouco de lado. Todos sabem que elas estão lá, mas poucos conhecem ao certo o que define cada uma.
E todo ano vemos rostos de famosas e celebridades na avenida. Algumas são homenageadas, outras são mais jovens e tem aquelas que incorporam o samba no pé -passível de críticas. Uma das famosas que é muito criticada pela falta de jeito para sambar é Adriane Galisteu, que é ex-rainha de bateria da Portela. Choveram comentários apontando negativamente a dança da apresentadora.
Angélica Ferrarez, pesquisadora da história social do samba com recorte no gênero feminino no período pós-abolição, explica que rainha de bateria é um cargo normalmente destinado a quem possa comprá-lo. Desse modo, a representante nem precisa necessariamente ter muito gingado.
Muitas vezes, ele é ocupado por famosas -que invariavelmente negam ter pagado para estar ali. Neste ano, cruzarão a Marquês de Sapucaí nessa função nomes como Sabrina Sato (Vila Isabel), Paolla Oliveira (Grande Rio) e Lexa (Unidos da Tijuca).
“Alguns ofícios estão sendo esvaziados. A rainha de bateria se tornou um cargo rentável e interessante para a escola de samba vender e poder angariar dinheiro. É importante lembrar que escola de samba é uma manifestação cultural que não tem investimento forte do Estado, por isso esse cargo serve como mediador para obter dinheiro”, explica ela.
Quem fica a par de representar mesmo a comunidade do samba é a princesa. É ela quem costuma ter uma dança mais envolvente. “É alguém da comunidade, vem de família sambista e que já pertence ao universo do samba.”
Um outro ofício importante na folia é o de musa. Yasmin Brunet, por exemplo, está seguindo os passos da mãe, Luiza Brunet, e vai atravessar a avenida como a musa da Grande Rio. Esse cargo denomina a pessoa que fica em cima de um dos diversos carros alegóricos e representa apenas uma parte do samba-enredo.
Outras famosas que desfilarão como musas neste ano são Thelminha Assis (Mangueira), Lorena Improta (Viradouro) e Bianca Andrade (Grande Rio). Erika Schneider, modelo, ex-Fazenda e ex-bailarina do Faustão, terá jornada dupla como musa da Águia de Ouro, em São Paulo, e da Mocidade Independente de Padre Miguel, no Rio.
Já a madrinha de bateria é alguém importante para a escola ou que será homenageada. “É a pessoa que vai amadrinhar, que vai acompanhar a bateria e a quem a bateria presta reverência”, cita Angélica.
“Existe uma perspectiva geracional, diferente da rainha, que geralmente é uma menina jovem ou uma pessoa adulta”, esclarece. Carla Diaz (Estrela do Terceiro Milênio, em SP) e Monique Alfradique (Grande Rio) são algumas famosas a ocupar esse posto em 2023.
“Rainha, madrinha e princesa são três figuras que vêm à frente da bateria, mas são as relações de poder e dinheiro que vão definir quem é quem nesse jogo. Os cargos são pensados para prestigiar, presentear pessoas que gostam, que são envolvidas com Carnaval, um folião. Mas tudo envolve relações de poder que respondem à indústria cultural”, afirma a historiadora.