Não é só Travessia; novelas da Globo fracassaram ao falar de tecnologia

A trama de Glória Perez gira em torno do que é uma deepfake -montagem produzida a partir do uso de inteligência artificial, tanto no formato de imagens, áudios ou vídeos, que é difícil de ser identificada a olho nu e se espalha rapidamente.


Por Folhapress Publicado 27/10/2022
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Reprodução: TV Globo

Parece que o público da TV Globo não gosta de novelas que incorporam tecnologia em suas histórias. “Travessia”, atual novela das 21h, não decolou na audiência após duas semanas de estreia e tem marcado índices inferiores à antecessora, “Pantanal”.


A trama de Glória Perez gira em torno do que é uma deepfake -montagem produzida a partir do uso de inteligência artificial, tanto no formato de imagens, áudios ou vídeos, que é difícil de ser identificada a olho nu e se espalha rapidamente. Brisa (Lucy Alves) é confundida com uma sequestradora de bebês após ter uma foto adulterada.


Mas não para por aí. Logo no primeiro capítulo, a trama mostrou a construção de um “shopping do futuro” cheio de tecnologia. Na atual fase da história, Guerra (Humberto Martins), influenciado por Talita (Dandara Mariana), quer construir um shopping no metaverso, onde todas as experiências são virtuais.


“Travessia” registrou 19,9 pontos de audiência no último sábado, marca abaixo do esperado e inferior a todos os capítulos de “Pantanal”. Ainda há muito chão pela frente e a novela pode recuperar esse desempenho inicial, mas focar em tecnologia não parece ser a saída para isso.


Confira outras novelas da emissora que investiram em temas ligados à tecnologia e fracassaram na audiência ou receberam críticas.


GERAÇÃO BRASIL (2014)
Uma das maiores decepções da emissora na faixa das 19h foi “Geração Brasil” (2014). Era a primeira trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira após o sucesso de “Cheias de Charme” (2012). Eles apostaram em uma linguagem moderna que não fisgou os mais jovens, nem os mais velhos.


A história contava a vida de Jonas Marra (Murilo Benício), um personagem no estilo Steve Jobs. Ele criou um império no Vale do Silício, mas precisou se aposentar e voltar ao Brasil com a esposa, a perua high-tech Pamela Parker (Claudia Abreu), e a filha Megan (Isabelle Drummond). Ele, então, investiu no talento de Davi (Humberto Carrão), um ativista da inclusão digital.


As falas misturavam inglês e português, o que não pegou bem. É até hoje a menor audiência da faixa. Os autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira não voltaram a assinar um projeto juntos na TV novamente.


TEMPOS MODERNOS (2010)
Já pensou em Antonio Fagundes dialogando com um robô? Isso acontecia em “Tempos Modernos”. A primeira novela do autor Bosco Brasil na emissora era uma comédia centrada na relação homem-máquina e repleta de aparatos tecnológicos. O tom futurista ficava por conta do robô Frank.


Leal Cordeiro, o personagem de Fagundes, era o idealizador de um edifício inteligente, onde se passava grande parte da novela. Frank contava fofocas das filhas de Leal, mas não era capaz de prevenir o protagonista das maldades da vilã Teodora, interpretada por Grazi Massafera.


Na época, a novela das 18h “Cama de Gato” superou a audiência de “Tempos Modernos” em diversas ocasiões. Ela obteve por dois anos o posto de menor audiência da faixa, empatada com “Três Irmãs” (2008).


MORDE E ASSOPRA (2011)
A novela de Walcyr Carrasco começou com boa audiência, mas perdeu parte do público logo nos primeiros capítulos. Além disso, seu início foi criticado por especialistas em televisão. Considera confusa, a trama misturava tecnologia, robôs, fósseis de dinossauros e cenas em uma fazenda.


Ícaro, personagem de Mateus Solano, sonhava em construir um robô que reproduzisse com exatidão Naomi (Flávia Alessandra), mulher que amou e foi dada como morta após trágico acidente de barco.


O autor teve de promover uma série de mudanças para resgatar audiência. Ele cortou a história que envolvia tecnologia e focou no romance dos protagonistas, a arqueóloga Júlia (Adriana Esteves) e o fazendeiro Abner (Marcos Pasquim), e na tentativa da vilã, Celeste (Vanessa Giácomo), de separá-los.

Além disso, o plano inicial de fazer os dinossauros ganharem vida também foi cortado.


As mudanças causaram efeito positivo e “Morde & Assopra” reverteu a queda de audiência e terminou com altos índices. Tornou-se um dos maiores sucessos dos anos 2010.


NORMA (2009)
Fora das novelas, a Globo também teve uma experiência negativa com a série “Norma” (2009). A série protagonizada por Denise Fraga mesclava televisão e internet por ser interativa. A atriz vivia uma pesquisadora insegura, sensível e emotiva. Já o público podia interagir e interferir nos rumos da história.


O projeto não deu certo nas noites de domingo, logo depois do “Fantástico”, e foi retirado do após três episódios. “Norma” chegou a ficar em quarto lugar na audiência, atrás de SBT, Record e Band.