Negra Li prepara novo álbum e admite dificuldade em falar sobre racismo
O preconceito que a acompanhou por toda a vida perdura até hoje.
Principal nome do rap nacional, a cantora, compositora e atriz Negra Li, 42, teve que batalhar muito para se impor em uma cena majoritariamente masculina durante a década de 90. Sua vontade era aproveitar a visibilidade para expor as dificuldades pelas quais passam as mulheres negras no Brasil – no rap e fora dele. Mas e se os convites para programas de TV começassem a rarear? E se fosse tachada de chata, monotemática? Essa era uma insegurança que ela tinha.
“Eu deixava para me expressar mais nas letras do rap”, diz a cantora, hoje com 24 anos de carreira. Mesmo cantando em prol da população preta, Negra Li afirma que muitas vezes teve que se conter para não falar sobre racismo em suas apresentações. O medo de fechar portas persistia.
O preconceito que a acompanhou por toda a vida perdura até hoje. Mesmo famosa, não deixa de passar por situações incômodas e injustificáveis, como quando foi criticada por alisar os cabelos, além de ser alvo constante de ataques racistas nas redes sociais. Mas ela diz que agora sente-se mais forte para lutar usando, muitas vezes, as mesmas armas do inimigo: a internet. “Não estou mais sozinha.”
Para a artista, a web deu voz aos acadêmicos negros, democratizou a informação, facilitou a vida de quem quer conhecer a história de seus antepassados. “Eu aprendo muito com os jovens de 20 e poucos anos que passaram pelas universidades, tiveram informação, já nasceram na era da internet e podem buscar a verdade do seu passado.”
Negra Li admite que ainda é um pouco travada ao falar de racismo e precisa estudar mais sobre o tema.
“Tem coisas que a gente precisa se informar melhor para poder falar. Eu tenho segurança para falar sobre a minha experiência, mas eu não posso falar de história, geograficamente onde estão os países e o que aconteceu.”
Na música, a cantora lançou em abril o single e o clipe de “Era uma vez Liliane”, com participação dos seus filhos. No trabalho, ela revisita o seu passado desde quando começou a cantar, no bairro da Brasilândia, zona norte de São Paulo. Já a canção “Malagueta”, lançada em junho em parceria com o rapper Rincon Sapiência, fala de empoderamento feminino -Negra dança sensualmente no clipe. “Ali eu trato da descoberta da minha sexualidade, brinco muito com essa coisa de sedução.”
As duas músicas farão parte de um álbum que ela pretende lançar ainda este ano, com faixas autobiográficas. “Fala dessa virada de como a Liliane de Carvalho se tornou Negra Li e como foi linda a minha trajetória até chegar aqui, as coisas que eu conquistei”, diz, orgulhosa.