Charlie Brown Jr. reúne músicos remanescentes em nova turnê
“São 30 anos do início do sonho”. É assim que Marcão Britto, guitarrista e fundador do Charlie Brown Jr. define a turnê comemorativa da banda, criada em Santos, em 1992. Ele e Thiago Castanho, também guitarrista da formação original do grupo, se juntam para fazer quatro shows em capitais brasileiras.
As apresentações vêm depois de um período conturbado e cheia de imbróglios entre os músicos e Alexandre Abrão, filho do vocalista Alexandre Magno Abrão, o Chorão, morto em 2013. Thiago e Marcão romperam com Alexandre em meados de 2021, quando a turnê foi anunciada.
A banda comunicou, à época, que Alexandre estaria fora do projeto. “Decidimos seguir o nosso caminho e o que achávamos que era certo. Então, não, o Alexandre não faz parte dessa turnê”, diz Castanho. As desavenças entre o herdeiro de Chorão e os músicos remanescentes têm como pano de fundo o pagamento de direitos artísticos e autorais, que resultou em trocas mútuas de ofensas e acusações.
Castanho e Marcão vão se apresentar com Bruno Graveto e Pinguim Ruas e prometem trazer de volta aos palcos antigos sucessos, além de celebrar a memória de Chorão e do baixista Leão Duarte Júnior, o Champignon, também morto em 2013. Os vocais serão de Egypcio, da banda Tihuana.
“Mesmo que o Chorão não esteja mais ali, estamos comemorando a história dele e a nossa também. Faz anos que não tocamos juntos, então é uma oportunidade para a galera ter noção do que era pelo menos uma parte daquilo”, afirma Castanho. O grupo também comemora os 25 anos do lançamento de “Transpiração Continua e Prolongada”, seu primeiro álbum de estúdio.
Os músicos estão ansiosos para voltar aos palcos mas afastam a possibilidade de reativar a banda de forma permanente depois das quatro apresentações – em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Porto Alegre. “São shows de edição limitada. Vão ser históricos. Charlie Brown Jr. é mais que uma música, uma banda, é um estilo de vida”, diz Marcão. Leia trechos da entrevista concedida pelos músicos ao F5.
Folha – São quase 10 anos sem tocar, desde a morte de Chorão e Champignon, e mesmo assim, muitas músicas do Charlie Brown Jr. continuam sendo cantadas por novas gerações. Como explicar esse sucesso?
Marcão: Tem coisas que só o tempo te responde, que vão além da percepção. A música do Charlie Brown Jr. é atemporal, a banda já parou faz um tempo. Não existe material novo sendo despejado. É algo realmente orgânico, as pessoas descobrem o som da banda por conta própria.
Thiago: O Chorão escrevia sobre vários assuntos, falava de amor, cotidiano ou até mesmo uma história de alguém que inspirava ele e passava isso para a galera. As letras dele são incríveis e estão aí até hoje.
Mas é sempre uma união. A letra sem a música vira uma poesia, só um texto. Mas a letra com uma melodia vira uma música realmente.
Folha – Vocês já comentaram que não pretendem retomar a banda ou lançar novas músicas, mas existe algum material ainda inédito do Charlie Brown?
Marcão: . Sim. Foi descoberto um material inédito durante a pandemia, foi a coisa mais legal que aconteceu. Ele vai ser lançado em algum momento. Não depende apenas de mim, mas se dependesse, já teria sido, está pronto. Esperamos que tenha entendimento entre nós e a parte de herdeiros, porque o lugar do Charlie Brown não é em uma gaveta ou em um HD. Esse seria o desejo do Chorão e do Champignon.
Folha – O Alexandre, filho do Chorão, participa de alguma forma da comemoração dos 30 anos?
Thiago: Sempre procuramos ter um entendimento com o Alexandre por respeito ao pai dele. Mas não conseguimos chegar em algo que fosse legal para as duas partes. Quando falamos de Charlie Brown Jr. estamos falando da nossa história também, então resolvemos nos dar valor, nós trabalhamos muito por isso. Grande parte da nossa vida foi dedicada a essa banda.
Claro que não conseguimos falar de Charlie Brown sem falar do Chorão, ele é um cara incrível. Ele tinha muito da identidade da banda, temos noção disso. Estamos aqui para homenagear a história dele também. Não queremos confusão com ninguém. Então, não, o Alexandre não faz parte dessa turnê.
Marcão: E nós esperamos o que dava para esperar. Não podíamos pôr em risco a ideia de celebrar a história da banda por conta de uma coisa, a meu ver, desnecessária. Não é algo relativo apenas ao nome da banda, existem direitos autorais. É uma história de vida, de indivíduos que se dedicaram por um período longo para criar o que é conhecido como Charlie Brown Jr.
Folha – Ao longo desses 30 anos o mercado musical mudou muito. Como vocês enxergam isso atualmente?
Marcão: A internet abriu uma porta muito grande em termos de diversidade. A forma de se curtir música, consumir e fazer mudou muito, mas vejo como uma mudança positiva.
Thiago: Na nossa época, parece que os discos tocavam por mais tempo, hoje eu vejo que eles lançam uma música e logo já estão lançando outra. A velocidade aumentou. Tem coisas e artistas que eu curto, o próprio Matuê eu acho muito legal.
Marcão: O Baco Exu do Blues eu acho foda… tem uma galera muito legal no trap, no rap, até no funk, pegamos o início no funk carioca. De certa maneira tivemos uma influência do início desse movimento, o Chorão curtia também.
Thiago: [Mas] com esse lance da internet ficou tudo muito diferente. Tem artista que tem a rede social e ela é o que manda. Às vezes o cara lança uma música, mas uma notícia de que ele saiu com uma pessoa acaba o deixando mais famoso do que a própria música. É tudo muito relativo.