Por que tantos sertanejos como Aleksandro morrem em acidentes na estrada

Isso porque são eles, diferentemente de astros da MPB, do pop e do rock, que vão até os rincões do país para se apresentarem, incluindo em suas turnês não apenas as capitais, mas também as cidades de médio e pequeno porte, como escreveu Gustavo Alonso, colunista deste jornal, em março.


Por Folhapress Publicado 10/05/2022
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Reprodução: Instagram

Se por um lado o retorno dos shows depois da pandemia trouxe de volta a principal diversão de muitos brasileiros, por outro reviveu dilemas como os acidentes de percurso nas estradas, caso de Aleksandro, da dupla com Conrado, que morreu no sábado depois que o ônibus em que estava tombou na rodovia Régis Bittencourt.


O caso de Aleksandro faz o público se lembrar de traumas antigos com ídolos perdidos. É o caso de Emival Camargo, irmão e o primeiro parceiro musical de Zezé, que morreu aos 12 anos, em 1975, enquanto retornava de um show em Imperatriz, no Maranhão. O acidente, que pôs fim à dupla Camargo e Camarguinho, é retratado na cinebiografia “Dois Filhos de Francisco”.


Foi, ainda, o mesmo caso de João Paulo, que fazia dupla com Daniel, há 25 anos. Ele morreu enquanto dirigia de São Caetano do Sul, onde tinha se apresentado, em direção a Brotas, no interior paulista, depois de capotar seu sedan BMW. O veículo caiu no canteiro central da rodovia dos Bandeirantes e pegou fogo. Preso às ferragens, o cantor não conseguiu escapar das chamas.


Houve ainda a capotagem que matou Cristiano Araújo em 2015. O cantor, que vivia o melhor momento de sua carreira, tinha acabado de fazer um show em Itumbiara, a 200 quilômetros de Goiânia, quando seu Land Rover capotou na rodovia Transbrasiliana, entre Goiatuba e Morrinhos, em Goiás.


O acidente, que comoveu o público, foi a prova cabal de que nem nos dias atuais, com o avanço da engenharia automotiva, as estradas são seguras para os cantores de sertanejo, o gênero musical que mais toca nas rádios Brasil afora e chega aonde a internet ainda é precária.


Isso porque são eles, diferentemente de astros da MPB, do pop e do rock, que vão até os rincões do país para se apresentarem, incluindo em suas turnês não apenas as capitais, mas também as cidades de médio e pequeno porte, como escreveu Gustavo Alonso, colunista deste jornal, em março.


Uma das duplas de maior sucesso do momento, Israel & Rodolffo, de “Batom de Cereja”, a música que mais tocou nas rádios brasileiras no ano passado, tem 17 shows programados para este mês. Só no próximo final de semana, a partir de quinta-feira, serão cinco apresentações.


É uma quantidade moderada de apresentações para o gênero. Para termos de comparação, Luan Santana fazia até 25 shows por mês em 2011, quando estourou alavancado pelo sucesso de “Meteoro”.

Ele comemorava que podia descansar quando conseguia fazer “só” 15 shows por mês.


Para cumprir uma agenda tão intensa, há ocasiões em que mesmo os sertanejos mais ricos, que alugam ou compram jatos, precisam se deslocar de carro ou de ônibus entre um show e outro.


Israel & Rodolffo, por exemplo, vão fazer dois shows no sábado. O primeiro é em Belo Horizonte, e o segundo, em Lavras, a 185 quilômetros dali. Na cidade mineira, que tem menos de 100 mil habitantes, até existe um aeroporto, mas sua estrutura não permite pousos frequentes. É comum, portanto, que o deslocamento seja terrestre.


Com isso, os sertanejos, mais do que cantores de qualquer outro gênero, acabam por propor uma cartografia do Brasil que vai além das metrópoles, exaltando as cidadezinhas em seus CDs e DVDs gravados ao vivo. Embora seja uma atitude da qual muitos se orgulham, é também o que coloca suas vidas em risco nas estradas.