Lázaro Ramos diz que está difícil ser brasileiro sob o governo Bolsonaro
"É ano eleitoral e precisamos avaliar isso tudo. Agora nós temos ainda denúncias de corrupção, então precisamos fazer uma avaliação ampla, sobre o bem-estar geral. Eu não vou ficar só na pauta artística, não, porque eu estou com o coletivo. Eu estou com o povo brasileiro e está difícil ser brasileiro."
Lázaro Ramos, que se prepara para lançar sua estreia na direção de um longa, acredita que este ano, de eleições, é vital para o futuro do país, já que “está difícil ser brasileiro”. Em entrevista para falar do filme “Medida Provisória“, o ator-diretor citou a inflação e a condução da pandemia como motivos para buscar uma renovação no comando do Brasil em outubro.
“Olha o preço do combustível e dos alimentos. Olha como a pandemia e o valor à vida foram tratados. Está difícil ser brasileiro sob o governo Bolsonaro, não posso falar só sobre a dificuldade de ser artista neste momento, não se trata disso”, diz ele por vídeo.
“É ano eleitoral e precisamos avaliar isso tudo. Agora nós temos ainda denúncias de corrupção, então precisamos fazer uma avaliação ampla, sobre o bem-estar geral. Eu não vou ficar só na pauta artística, não, porque eu estou com o coletivo. Eu estou com o povo brasileiro e está difícil ser brasileiro.”
Em “Medida Provisória”, que chega aos cinemas nesta quinta (14), Lázaro filmou um Brasil distópico no qual o governo decide enviar a população negra para países africanos, num ato que camufla como sendo de reparação histórica. No centro da trama está um casal que consegue fugir da brutalidade policial para tentar se manter no Brasil.
Ele é formado pelo ator anglo-brasileiro Alfred Enoch e por Taís Araujo, mulher de Lázaro e que fez coro às suas críticas na semana passada, afirmando que os quatro anos de governo Bolsonaro estão sendo “infernais”.
A estreia de “Medida Provisória” acontece após um longo imbróglio envolvendo a Ancine, a Agência Nacional do Cinema, numa experiência semelhante à de “Marighella”, de Wagner Moura. Para o casal, houve censura para que o longa não chegasse ao público.
“O que sabemos é que um membro do governo puxou um boicote lá atrás, dizendo que o filme foi feito para falar mal do ‘messias’. Depois, a gente precisava de uma simples assinatura para trocar nossa distribuidora e isso demorou um ano e alguns meses para acontecer”, explica Lázaro.
“Tivemos que adiar a estreia quatro vezes. Censura também se faz com burocracia e foi isso o que aconteceu. O flerte com a censura é expediente desse governo, a gente sabe.”
A distopia de “Medida Provisória”, imaginada há uma década inicialmente para o teatro, foi em vários aspectos transformada em realidade, segundo o casal de artistas. O filme, agora, se faz necessário, dizem, por aliar entretenimento a uma discussão sobre projeto de nação e justiça social.
“Se há várias semelhanças entre o Brasil de hoje e o filme, isso significa que a gente tem que parar para conversar de novo, porque a gente fez escolhas erradas no caminho”, conclui Lázaro.
Procurada para comentar a demora no lançamento de “Medida Provisória”, a Ancine afirmou, por meio de nota, que “o pedido de troca de distribuidora do projeto selecionado para investimento é um fato relevante e merece necessariamente a análise pela equipe técnica”.
“A Ancine informa que o filme ‘Medida Provisória’ recebeu para a sua produção o investimento total de R$ 2,7 milhões, por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e o processo da obra, no âmbito da agência, seguiu os prazos regulamentares. Em dezembro de 2021, a Ancine autorizou o pedido para inclusão da nova distribuidora no contrato com o FSA.”