Alexandre Pires e Seu Jorge dão vida a live em catarse à brasileira
Depois de mais de um ano de restrições pandêmicas, Pires e Seu Jorge faziam ali o primeiro show em solo brasileiro de "Irmãos", turnê mundial que sela a parceria entre os músicos e é inspirada numa das lives mais vistas no país durante a era da Covid-19.
“Que esse show seja importante na vida de todos vocês. Vamos celebrar essa retomada, porque infelizmente muita gente não teve a mesma oportunidade”, diz Alexandre Pires às mais de 19 mil pessoas reunidas no Allianz Parque, em São Paulo, numa noite do início de dezembro.
Depois de mais de um ano de restrições pandêmicas, Pires e Seu Jorge faziam ali o primeiro show em solo brasileiro de “Irmãos”, turnê mundial que sela a parceria entre os músicos e é inspirada numa das lives mais vistas no país durante a era da Covid-19.
Os ares soturnos da pandemia, contudo, passavam longe dos holofotes do evento. Em vez disso, uma multidão dançante, alegre e romântica esbanjava uma catarse à brasileira, com muito samba, pagode, MPB e clássicos nacionais.
Das pistas às arquibancadas, milhares sambavam em meio a máscaras faciais -algumas sobre o rosto, outras abaixo do queixo, e muitas fora de vista-, goles de cerveja, beijos excitantes, berros de êxtase e, é claro, à sensação generalizada de estar sobrevivendo a uma pandemia.
Em maio do ano passado, no auge das lives superproduzidas, Pires e Seu Jorge deram início a “Irmãos”, com um show online de mais de três horas de duração. A ideia, diz Seu Jorge, era levar alegria e motivação às pessoas diante das dificuldades do momento assustador provocado pelo novo coronavírus, o que agora é ressignificado na turnê.
“Sabemos que no período de ‘pós-pandemia’ as pessoas estão ávidas por serem felizes, se reverem e dançarem. O repertório já contemplava tudo isso na live e, agora, fará presencialmente”, afirma ele. “É muito grande a felicidade de proporcionar isso às pessoas que nos deram suporte o ano inteiro prestigiando a nossa live.”
Com mais de 14 milhões de visualizações, a gravação online se tornou o embrião do projeto que uniu pela primeira vez duas das vozes mais aclamadas da música brasileira. A amizade dos artistas, porém, é tão antiga quanto o sonho de embarcarem num trabalho juntos.
“A concepção era muito simples, a live era baseada no sucesso que a gente já tinha e seria, com muita sorte, num domingo de sol para levar um pouco de alegria às pessoas que estavam confinadas em casa há muitos dias”, afirma Seu Jorge. “Por isso, se estamos hoje no palco, é porque existiu um clamor muito grande por essa live durante todo o processo de isolamento. As pessoas manifestaram muito o desejo de ver isso ao vivo.”
Além dos sucessos das carreiras solo do carioca e do mineiro, nomes como Tim Maia, Jorge Ben, Legião Urbana e Ana Carolina integram o setlist da turnê.
“É um show bem balançado, suingado e muito romântico”, diz Pires. “Eu e o Jorge temos um gosto musical bem semelhante, então foi fácil selecionar o repertório, que desde a live é sempre muito bem quisto pelo público.”
O sucesso do evento online foi tão grande que, segundo o cantor, mesmo que a turnê gere discos, DVDs ou qualquer tipo de registro, o vídeo pandêmico continuará a ser visto com fôlego por muitos anos. Mas, como ambos os artistas ficaram longe da euforia dos palcos por meses, suas intenções são de “cair na estrada”. Ou seja, nada de shows em pixels enclausurados numa tela quadrada, sujeita a sinal de internet. A dinâmica agora é outra.
Com o avanço da vacinação no mundo e o afrouxamento de protocolos sanitários de combate à Covid-19, eventos que até então eram proibidos se tornam cada vez mais comuns.
Lucas Giacomolli, vice-presidente da Opus, responsável pela turnê, conta que voltar a trabalhar com grandes públicos tem provocado inúmeras satisfações à empresa, conhecida pela organização e promoção de espetáculos. É como sentir novamente “aquele arrepio” que não vivia há quase dois anos, diz ele.
Mas, para que tudo funcione dentro das diretrizes estipuladas nesta nova fase da pandemia, a Opus aumentou, segundo Giacomolli, sua equipe de segurança, faxina e orientação. No Allianz Parque, não era difícil encontrar totens com álcool em gel, aferição de temperatura e comprovantes de vacinação.
Fato é que, apesar de aglomerado, o público do evento parecia confortável e, sobretudo, feliz. “Ficamos muito tempo dentro de casa. Essa retomada é um marco para a nossa existência. É um começo. A gente não sabe como será daqui a dois meses, mas ter essa oportunidade já está sendo ótimo”, afirma Leonardo Silva, funcionário do Instituto Butantã que estava no show ao lado da mulher, Thais Silva, também profissional da saúde.
Assim como o casal, a agente de viagem Marile Cardoso diz que “Irmãos” foi seu primeiro show desde o início da pandemia e define a experiência como “uma sensação única de liberdade”. Sua irmã, Ana, técnica cirúrgica, diz que quando compraram o ingresso ainda “não havia começado a quarta onda da Covid” e o raciocínio foi, assim, o de “aproveitar enquanto possível”.
A assistente administrativa Roberta Alves também se mostrava preocupada com o futuro e dizia que sua maior saudade no período de confinamento foi de ir a shows. “Apesar de todos os cuidados que ainda são necessários, é muito bom estar aqui de volta. É indescritível.”
Com ingressos esgotados, os primeiros shows de “Irmãos” ocorreram em outubro, em Portugal. Depois, sobre as águas no navio Alexandre Pires. E, neste mês, começam a se espalhar pelo Brasil, com a expectativa de percorrerem o mundo em 2022, sob uma nova realidade pós-pandêmica.